domingo, 15 de novembro de 2009

Feitiços e lamentáveis feiticeiros

Terá sido uma das mais amargas constatações do recém desaparecido Claude Lévi Strauss: a facilidade com que o oprimido se torna opressor, o exterminado se torna exterminador, o colonizado em colonizador.
Em dois documentários diferentes constata-se isso mesmo: num deles os australianos de origem europeia votam um ódio visceral aos que nasceram no mesmo espaço geográfico, mas de pais oriundos de países árabes. Ser muçulmano e ostentar uma tez mais escura, equivale a graves problemas num país cujas origens são, como se sabe, as mais contrárias a qualquer fundamentação de atavismos baseados na religião ou na cor da pele.
É claro que o proselitismo islamista justifica alguns receios, sobretudo, se traduzido em algo como o atentado da semana passada numa base americana pelo qual um psiquiatra de origem palestiniana assassinou a sangue frio uns quantos colegas. Mas a melhor atitude para com os fundamentalismos não deixa de ser a de contrapor a prática da Declaração Universal dos Direitos Humanos e eliminar as razões fundamentais do despeito desesperado dos terroristas: a miséria e a falta de uma educação orientada para a tolerância de quem é diferente.
O outro documentário a suscitar idênticas apreensões tem a ver com a África do Sul, aonde a população branca vive em situação de sitiada pela imensa maioria a quem no apartheid segregava e agora a ataca violentamente através de gangs de desesperados para quem a promessa dos amanhãs que cantam não travou a necessidade de sobreviverem no imediato, já que o desemprego e a miséria continuam a lavrar nas suas townships.
Num ou noutro desses países estamos muito distantes das expectativas de desenvolvimento harmonioso, que chegaram a alimentar. A luta de classes está aguda por tais lados e o racismo é apenas uma das suas vertentes mais odiosas...

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