domingo, 10 de janeiro de 2010

Lamento de um leitor insatisfeito

Já passaram algumas semanas desde a substituição na titularidade da direcção do «Público» e, infelizmente, o que se julgou constituir a oportunidade para devolver ao jornal, outrora fundado por Vicente Jorge Silva, o carácter de publicação de referência assumido nas suas origens parece perdida.
Pese embora se encontrem, aqui e ali, temas de interesse não despiciendo, demonstrativos de haver na sua redacção quem pudesse abalançar-se a esse nível superior de qualidade!
Enquanto leitor nem pediria muito: a objectividade equilibrada do «Le Monde» continua a servir-me de bitola, mesmo numa lógica de esquerda, que se não tem receio em escamotear.
Mas o que vemos no «Público» para pegarmos no exemplo do que surge numa edição precisa, a de domingo, dia 10 de Janeiro?
Três textos de interesse muito relevante: um sobre a mudança de paradigma que leva a transformar os chineses nos maiores compradores de carros em detrimento dos habituais lideres norte-americanos e que demonstra bem quão rápida está Pequim a impor-se na definição política e económica do futuro próximo. Outro texto sobre a geração perdida entre os 16 e os 25 anos, tão dotada de conhecimentos universitários, quanto marginalizada de um mercado de trabalho aonde só depara com a precariedade e o desemprego. E a tímida tentativa das autoridades brasileiras em ajustarem contas com a ditadura militar.
Muito embora qualquer desses textos pudessem ir além no que pressupõem sobre as mudanças sociológicas anunciadas e que não tardarão a resultar de grandes dissensões ideológicas de sinal contrário (não: a esquerda e a direita ainda se distinguem bem uma da outra!), eles são o exemplo do que gosto de ler no meu jornal de eleição.
Mas há o lado «Darth Vader» da redacção, aquele que continua a mostrar uma obsessão inusitada pelo primeiro-ministro, ora editorialmente o dando embaraçado com a anunciada campanha presidencial de Manuel Alegre, ora recolocando à mesa o mais que requentado caso Freeport, ora persistindo em dar primazia a uma única versão do caso Face Oculta, como se a verdade jurídica penda exclusivamente para um dos lados.
Num jornal que, lamentavelmente, mantém como colunista o antigo director, que tanto prejudicou a desejada imagem de equilíbrio entre quem, dialecticamente, se opõe no mundo onde vivemos, tardo em confessar-me um leitor satisfeito...

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