sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O anunciado fim de mais uma ilusão

É verdade que ficou para trás uma década da história dos homens, que deixa poucas saudades, se pensarmos nas diversas calamidades, que lhe estiveram associadas.

Os ataques às Torres Gémeas de Nova Iorque, o tsunami devastador para muitos povos do Índico, o Katrina e outros furacões destruidores de cidades caribenhas e do sul dos EUA, mas também toda a acção de políticos cujo verdadeiro destino deveria ser o de comparecerem perante réplicas de Nuremberga por quantos morticínios promoveram nas guerras para que arrastaram gerações de jovens como carne para canhão.
Mas, até para não destoar do que para trás deixara, a década despede-se com uma crise económica e financeira de trágicas consequências para quem ficou sem emprego e já não tem esperanças em o reencontrar.
O fracasso da cimeira de Copenhaga não deixa de estar relacionado com esse sobressalto padecido pelo capitalismo na sua versão mais odiosa  - a da sua vertente mais selvagem, pugnada pelos friedmanianos apostados em teimar quão «vantajoso» resulta deixar o mercado funcionar, já que o Estado só existe para atrapalhar a imparável acumulação de riqueza.
No início de um novo ciclo coincidente com o de uma outra década, esperar-se-ia a sagacidade dos nossos políticos no sentido de relegarem para o caixote do lixo da História um sistema económico, que só tem acentuado a brutal diferenciação entre os poucos que quase tudo têm e essa imensa maioria que, à conta de religião, de futebol e de telenovelas, vai-se distraindo de quanto importa acordar e exigir um mundo novo a sério.
Embora tenha resistido ao sobressalto dos últimos tempos, o capitalismo já vai criando as novas bolhas especulativas, que resultarão nas próximas crises. E, se por agora, só vozes marginais como a do recém-reeleito presidente boliviano, se apressam a anunciar a inevitável morte do moribundo, iremos assistir ainda por mais uns anos às ilusões a respeito da suposta bondade dos empresários privados, esses altruístas apenas preocupados em associar o lucro à criação de empregos e de boas condições de vida para os seus trabalhadores.
Um dia destes a crise atinge as dimensões de um terramoto e, entre enterrar os mortos e cuidar dos vivos já não sobrará quem, entre estes, encontre os axiomas por ora debitados  nos cursos de economia das nossas universidades...

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