segunda-feira, 20 de junho de 2011

Cavaco Silva: um presidente faccioso

Está a ser escandaloso o apoio descarado de Cavaco Silva ao Governo de Passos Coelho. Ao contrário dos seus antecessores, que nunca deixaram de reivindicar o estatuto de representantes de todos os cidadãos, o actual inquilino de Belém passou os mandatos de José Sócrates a conferir-lhe, no máximo, uma nunca demonstrada solidariedade institucional, enquanto agora tudo faz para levar o primeiro-ministro ao colo. Assim se compreendem os esforços para que, iludindo os pressupostos constitucionais, ele venha a estar na cimeira da Ecofin e os discursos de crítica azeda contra o recente executivo.
Apesar de ser o político mais tempo vinculado a funções públicas, Cavaco Silva nunca tem demonstrado qualquer grandeza pelo que nunca ficará na História portuguesa por bons motivos. Ao contrário de Mário Soares, que tem lugar garantido pela sua acção antifascista e pela responsabilidade de garantir a entrada do país na comunidade europeia.
Mas, neste crepúsculo do seu mandato, ele já nem sequer tenta disfarçar o facto de ser o presidente dos cinquenta por cento de eleitores, que votaram na coligação de direita nas eleições de 5 de Junho. Porque os demais não podem senão censurar o seu óbvio facciosismo.
E, a prazo, quando a base social de apoio ao novo Governo for minguando por efeito da sua estratégia neoliberal, ele ficará associado às políticas erradas executadas com a sua conivência.
Perante a contestação crescente ao Governo seria importante contar em Belém com quem não estivesse tão conotado com este e servisse de árbitro capaz de libertar alguma pressão então acumulada.
Infelizmente não estará então em condições de exercer essa magistratura de influência. E, com o regresso dos socialistas ao poder na sequencia da derrota da direita nas autárquicas de 2013, restar-lhe-ão duas alternativas: ou reduzir-se à sua irrelevância ou resignar. O que seria uma novidade no nosso regime desde que o acossado Spínola fugiu para Espanha. Também ele derrotado na sua visão facciosa da realidade política, que deveria superintender.

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