segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Carta a um jornalista do «Negócios», que focalizava as críticas em Sócrates, quando o tempo é de equacionar as maldades de Passos Coelho

Leio os seus apontamentos na rubrica «Elevador» de 14 de Outubro e embora me não espantem as opiniões subjectivas (e intensamente partidárias!) ali emitidas, lamento a desonestidade intelectual subjacente: terá o PS levado o país à bancarrota por via da irresponsabilidade do seu líder de então ou esse desiderato resultará antes da tal conjuntura internacional para a qual alguns só pareceram olhar nos últimos três meses, associada ao progressivo cerco à anterior governação culminada na recusa do chamado PEC IV?
Gostaria de encontrar nos comentadores, que costumo ler com atenção (como é o seu caso!), uma maior racionalidade, que se traduzisse numa leitura mais objectiva dos acontecimentos. O «Le Monde» continua a constituir para mim uma escola notável de rigor e de equilíbrio de análise da realidade…
Quando leio os seus textos, interrogo-me se na tranquilidade das suas horas nocturnas, quando porventura ouve um bom jazz, de que parece ser pródigo cultor, não se interrogará sobre o iminente crepúsculo do capitalismo, sobre os indícios que os movimentos dos indignados poderão pressagiar, sobre a probabilidade de se ir rebuscar o velho Marx, livrando-o da tralha totalitária, e reformulando-o na direcção de um mundo mais justo, igualitário e fraterno?
Se deixar o pensamento ir além das fronteiras estreitas, que parecem balizar o seu discurso, sentirá porventura o quanto possam fazer sentido algumas concepções por nós (quase) todos perfilhadas nos verdes anos e que estão longe de desmerecer o desprezo a que as votámos à conta de uns preconceitos alimentados pelo incompreensível enfeudamento a um dos lados da trincheira dessa luta de classes, que nunca deixou, nem deixará de existir.

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