quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

VIDA FÁCIL?

O que Cavaco Silva afirmou recentemente a propósito da suposta vida fácil vivida pelos portugueses nos últimos anos - que justificaria o pacote de medidas de austeridade impostas pelo Governo! - é um autêntico escândalo.
Se pensarmos nalguns amigos do Presidente - de Dias Loureiro a Duarte Lima - não duvidamos que, de facto, uma pequena minoria de portugueses tiveram uma vida fácil à conta de serem seus amigos. Mas, para a maioria dos portugueses a realidade dos salários baixos, do desemprego, da qualificação insuficiente para as exigências do mercado do trabalho, as pensões de miséria e a qualidade insuficiente da saúde e da educação públicas foram um quotidiano motivo de inquietação.
Durante estes últimos anos - e por muito que os Governos de José Sócrates tenham feito os possíveis por puxar pelas energias positivas dos portugueses, criando as condições para a diminuição das diferenças abissais de rendimentos - o que nunca houve foi vida fácil para a maioria dos cidadãos.
Que Cavaco Silva venha agora levantar, de forma leviana, tal hipótese só pode ser entendido como um autêntico insulto à inteligência colectiva.
É nesse sentido que Daniel Oliveira escreveu oportuna crónica no «Expresso» de que retiro o seguinte trecho:
O problema do discurso moralista sobre os portugueses e infantil sobre a economia que agora está em voga - "vida fácil", "viver a cima das nossas possibilidades" ou "viver com o que se tem" - é que não tem qualquer rigor económico. Vende uma narrativa para impor sacrifícios aos que nunca viveram com desafogo. Desta narrativa resultam falsos culpados e falsos inocentes. Os culpados são "os portugueses", que, apesar de viverem no País mais desigual da Europa, são tratados como uma massa uniforme de privilegiados e gastadores. Os inocentes são os sucessivos governantes, onde está seguramente incluído o homem que governou na nossa primeira década europeia.



Sem comentários:

Enviar um comentário