domingo, 20 de maio de 2012

A propósito das «confusões» de um suposto «Movimento Apartidário»!


O conto já tem uns anos, mas jamais o esqueci. O autor era Mário de Carvalho, que punha um dos seus personagens a repetir obsessivamente a mesma frase: «Não confundir género humano com Manuel Germano».
Recordei-a a propósito de um inenarrável post, que me chegou via mail e facebook e em que um suposto «Movimento Apartidário» (e o que há a dizer sobre quem assim se qualifica, porque, taxativamente, revela sempre uma ideologia de direita, senão mesmo de extrema-direita!) associa José Sócrates aos réus Duarte Lima e Isaltino Morais, como se pudesse haver alguma semelhança entre eles.
Acredito que muitos dos que partilharam esse post sejam ingénuos e nem sequer equacionem o quanto estão a colaborar com gente pouco recomendável. Mas, para que fiquemos devidamente esclarecidos, convém recordar que José Sócrates fica definitivamente ligado ao período da história portuguesa em que se recuperou o défice de quase 7% deixado pelos Governos de Durão Barroso e Santana Lopes para menos de 3%. Que liderou o Governo, que mais fez pelo incremento da investigação científica portuguesa, pela aposta nas energias renováveis, pela requalificação das escolas, pelo regresso de tanta gente à escola por via das Novas Oportunidades, que desburocratizou a Administração Pública através do Simplex ou que pretendeu melhorar a saúde dos utentes do SNS com as USF (Unidades de Saúde Familiares).
É sabido que por ter afrontado interesses corporativos poderosos, a começar pelos titulares dos cargos da Justiça, os seus Governos em geral e José Sócrates em particular foi objeto da mais despudorada campanha de assassinato de carácter alguma vez praticada sobre um político em Portugal.
Sou dos que acreditam na possibilidade de, num futuro próximo, se descobrir quem esteve por trás das campanhas sucessivas, que dele fizeram alvo, a exemplo do que já haviam ensaiado com Paulo Pedroso ou Ferro Rodrigues.
Se se quiser apontar algo a José Sócrates então cuide-se de abordar porque não teve a sagacidade de compreender como, num contexto em que as teses neoliberais ganhavam força por toda a Europa, ele ainda continuava a crer nas virtudes das receitas neokeynesianas, assentes no crescimento da economia a partir da participação do Estado na criação de investimentos em infraestruturas.
Agora que faliram essas teses, particularmente fortalecidas com a bancarrota do Lehman Brothers em Setembro de 2008 e a urgência dos banqueiros em salvaguardarem o dinheiro investido em negócios de alto risco de carácter especulativo, e já todos - desde Obama a Merkel - voltam a falar de crescimento, é altura de enfatizar quanto Sócrates, quase sozinho, procurou implementar tal política!
Mas outra característica se deve nele elogiar: a vontade em sempre puxar pelo lado mais positivo dos portugueses, a cujo orgulho de povo com muito de heroico no seu passado, não se cansou de apelar.
Esta semana, como dizia Clara Ferreira Alves no «Eixo do Mal», chega a ser humilhante a comparação do comportamento dos portugueses com os gregos. A estes podem-nos querer dobrar com ameaças, com cortes de apoios financeiros e outras táticas criminosas de que Barroso, Schauble e outros figurões têm servido de tenores, que ninguém os faz vergar a cerviz! Eles mostram que têm espinha!
Ao invés, nós portugueses, vemos um Passos Coelho a arrojar-se, sem ponta de dignidade, aos ditames da troika e da srª Merkel num espetáculo indecoroso, que só nos pode envergonhar.
É neste contexto que esse suposto Movimento Apartidário vem colar Sócrates ao que de pior a classe política portuguesa produziu nestas quase quatro décadas de democracia.
Porque ínvios motivos? Os seus autores o saberão porquê!
Mas, os que creem num país mais justo e decente, não cavalgam obviamente nessa onda!

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