quinta-feira, 5 de julho de 2012

A angústia de um pobre homem acossado


Não fossem as suas responsabilidades no criminoso empobrecimento dos portugueses e Pedro Passos Coelho seria alguém de quem se deveria ter alguma pena.
Senão vejamos: anda um rapaz ambicioso a colar cartazes e a palmilhar o país como jotinha na expectativa de vir a ter um lugar de relevo na história do país e de cuidar das suas contas bancárias e da dos amigos, e logo lhe cai a tarefa de governar nesta altura.
Há um ano estava convicto de nada poder falhar: lera uns livros de autoajuda, participara numas quantas sessões de coaching para se convencer da exequibilidade do seu sonho, contava com um técnico de finanças de certezas e competências inabaláveis e conseguira arregimentar o parceiro da direita, que saíra das eleições mais fraco do que julgara provável.
E afinal aquilo que negara a Sócrates - a responsabilidade das causas externas como razão para as debilidades das contas públicas - acaba por lhe rebentar fragorosamente nas mãos.
Daí para a frente tem sido sempre a piorar: em desespero de causa tenta agarrar-se às calças de Merkel, mas ela é capaz de ter mais afeição por outros animais domésticos. E os resultados prometidos por Gaspar saem sempre desmentidos pela ingrata realidade: é o défice a piorar em relação aos tempos do mal amado antecessor apesar de toda a austeridade, é o desemprego a aumentar mês após mês sem sinal de abrandar, apesar da fuga desesperada de uns quantos para as Áfricas, as Franças e os Brasis, é ainda o seu lugar-tenente desmascarado nas habilidades em que sempre soubera colher proveito e eximir-se às responsabilidades.
Depois, é a imprensa a mostrar-se-lhe desfavorável e os apupos da rua a obrigarem-no a entrar por portas esconsas nos edifícios públicos a visitar.
Por muito que se queira iludir com a suposta eficácia das organizações comunistas e sindicais, o seu semblante carregado demonstra a inquietação de quem se sente demasiado pequenino para a ciclópica tarefa a que quis lançar-se.
Na sua crónica para o «Diário de Notícias», Baptista Bastos repete o que vem dizendo há algum tempo: O vendaval de protestos já não se enquadra, somente, nos partidos políticos. O que pode ser perigoso, como rastilho para acidular ações inorgânicas, com consequências absolutamente imprevisíveis.
A lógica do indistinto afirma uma retórica que tende a fazer desaparecer as referências e a pulverizar as normas.
Não somos, redutoramente, um "país de costumes brandos e hábitos morigerados", como quis e impôs Salazar, com a censura, a polícia política e sicários estipendiados nos serviços e nos órgãos de comunicação social. 
Na sua fraqueza indisfarçável, Passos Coelho bem gostaria de ter disponível uma resposta musculada. É o apanágio dos fracos: sonharem com o silenciamento dos protestos por via das polícias de choque. Daí que, ainda não há muito tempo, mostrasse inveja pelo modelo político constatado em Singapura, cidade-estado há muito dominada por um clã de ditadores. Ou seja, como lembra João Cardoso Rosas no «Diário Económico», uma "democracia de fachada" que procura a sua legitimação pela criação de bem-estar e não mediante o respeito pelas liberdades civis e políticas (mas, como é óbvio, só cria bem-estar para alguns).
Esta mundividência avessa à política democrática tem vários problemas.
Por um lado, revela a debilidade intelectual de quem nos governa e cujas credenciais democráticas são abaladas ao primeiro choque.
Por outro lado, mostra o absoluto irrealismo em que estamos (ou estão) mergulhados: a Europa não é a Ásia e, aqui, a solução para os nossos problemas só poderá ser política e terá de passar pela participação democrática.
Será imprevisível prever quanto tempo este Governo prosseguirá na sua apagada e vil tristeza, tanto mais que as notícias relacionadas com a licenciatura de Miguel Relvas vêm, novamente, colocá-lo na posição do acossado.
E eu, que venho apostando há muito na forte probabilidade de ser Paulo Portas a puxar o tapete ao compincha, constato a preocupação do CDS em se ir demarcando do discurso da austeridade.
Muito embora António José Seguro afiance a displicente preparação de uma alternativa para 2015, achando curial que o governo cumpra inteiramente o seu mandato, será bom que vá preparando o Partido Socialista para retomar as rédeas da nação mais cedo do que esperaria.
Até porque vão surgindo outros indícios eloquentes de estar a preparar-se o fim antecipado deste ciclo: de facto, como se entende o despedimento do casal Moniz/Moura Guedes do «Correio da Manhã», senão como a necessidade dos paulos fernandes começarem a virar a casaca, libertando-se do pesado fardo de quem fora útil para precipitar a queda de José Sócrates? Roma continua, de facto, a não pagar aos assassinos dos seus generais!
Mas, como nem tudo é negativo, o CERN anunciou esta quarta-feira de manhã, em Genebra, a descoberta de uma partícula totalmente nova que pode ser o bosão de Higgs, entidade subatómica cuja procura dura há quase 50 anos.
A ser verdade vivemos hoje a grande data científica do início do século XXI por validar uma das mais controversas explicações da matéria de que é feito o Universo. E comprova-se a efetiva existência dos buracos negros, aonde se concentra parte significativa da massa  libertada pelo Big Bang.
Mas esta descoberta, que é exclusivamente teórica e não é passível de vir a ser rentabilizada em breve sob a forma de uma qualquer patente, está ligada a uma forma de investir no conhecimento inviável desde Setembro de 2008.
Quantos dos investidores nas futuristas instalações científicas de Genebra manteriam essa participação se a decisão fosse tomada hoje em dia?
A injustificada aposta no capitalismo puro e duro poderá interessar bastante às oligarquias financeiras, mas só poderá merecer total desaprovação por quem procura respostas mais avançadas para as grandes interrogações científicas levantadas no século passado.

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