segunda-feira, 27 de agosto de 2012

FILME: «A Árvore da Vida» de Terrence Mallick (2011)



Há uns quarenta anos pertenci à geração, que fez grandes debates filosóficos em torno do célebre paralelepípedo do «2001, Odisseia no Espaço».
Foi no tempo em que também toda a argumentação destinada a manter inquestionada a fé divina se esboroou e deu ensejo ao ateísmo subsequente de muitos de nós.
Se por essa altura tivesse aparecido este filme de Terrence Mallick a ânsia de termos «conversas importantes» seria bem alimentada por este tratamento místico das dúvidas existenciais de um homem adulto, que olha para trás e ainda não conseguiu resolver os dilemas éticos relativos à relação freudiana (de amor) com a mãe e (de ódio assassino) com o pai.
O filme é bastante bonito, mas até Sean Penn confessou deceção perante um tratamento tão incomum de um argumento, que tanto o havia seduzido, mas incapaz de garantir um fio condutor passível de o tornar mais compreensível. É que somos brindados com imagens sobre a criação do universo e da Terra (e o seu fim), com dinossauros de permeio e Deus a ser interrogado na sua ausência, no alheamento à sorte dos seus crentes, mas sem Mallick arriscar uma interpretação convencional de toda a sua idiossincrasia.
Verdade que para um católico o filme representará a exacerbação das maravilhas da Criação Divina, mas o ateu também não sai mal servido com as dúvidas existenciais de Jack O’Brien - esse Job testado, a exemplo do seu modelo bíblico, quanto à consistência da sua crença. Até porque o filme é também sobre a sua perda de inocência à medida que os anos passam e toda a magia infantil se esvai ao constatar a dificuldade de relacionamento entre os adultos. Sobretudo porque o odiado pai compensa em prepotência toda a frustração por ter falhado rotundamente nos seus projetos de vida, quer como compositor, quer como inventor.
A nostalgia desses longínquos anos 50 numa pequena cidade texana dá lugar à triste consciência de sermos ínfimos e irrelevantes no seio de um universo grandioso e de leis inacessíveis.
O final com o reencontro de Jack com os pais, os irmãos e os amigos num Além intemporal, aposta na transcendente crença da imortalidade da Alma, mas pode tratar-se apenas de uma criação idealizada da sua mente solitária, ansiosa por uma solução paliativa para todas as irresolúveis inquietações...

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