quinta-feira, 30 de agosto de 2012

POLÍTICA: Agir antes que tudo isto acabe muito mal...


Será que Passos Coelho começa a ter a verdadeira dimensão do repúdio que os portugueses manifestam pelas suas políticas? É que já passaram dias a mais sobre as tenebrosas declarações de António Borges a Judite de Sousa para só agora vir falar sobre o assunto, não propriamente para desmentir os propósitos então expressados, mas para classificar de histéricas as opiniões subsequentes.
É claro que ele e Relvas ainda julgam possível limitar os danos do escândalo ao alimentarem o «Correio da Manhã» com manchetes vergonhosas, ao esperarem que o Crespo da SIC ainda seja ouvido nas suas atoardas ou que o anão da Trofa vá esganiçando a voz na proposta para demitir a administração da RTP.
O futuro da liberdade de expressão em Portugal passa pelo que acontecer à televisão pública e a esquerda não pode tergiversar sobre o que com ela ocorrer. Porque António José Seguro não pode iludir-nos nem iludir-se com a eventual reversibilidade do negócio: concluído ele é todo o património cultural ligado à RTP enquanto veículo de expressão da democracia, que fica posto em causa. Comentava Nuno Ramos de Almeida no i a respeito das supostas reformas de Passos & Cª que o problema com este governo não é o da irreversibilidade das reformas que estão erradas, é o da irreversibilidade dos negócios que dão ao desbarato o património de muitas gerações de portugueses. Para este governo, os negócios são eternos. 
Na sua deriva descontrolada para as formas mais selvagens do criminoso sistema capitalista pode vir a ser muito danoso para a maioria dos cidadãos a entorse civilizacional, que está a ser tentada, como lembra Baptista Bastos no Diário de Notícias: A mística do neoliberalismo, perante um mundo sem pátria e de pensamento único, tem como objetivo o domínio pela obediência, pela submissão e pelo medo. O papel do sr. António Borges é o de um factotum desprovido de toda a singularidade. Em causa estão a grande crise de valores de que enferma a nossa época e a supremacia da finança sobre a diversidade civilizacional. Alegremente, caminhamos para o desconhecido, sabendo-se, de antemão, pelo que resulta da experiência, a configuração da catástrofe.
De todos os lados há vozes a clamarem por uma reação indignada e modelar contra este estado das coisas tendo em conta o quanto elas nos empurram para o abismo: os portugueses fizeram da troika o seu John Wayne. Pensaram que a sua chegada, com um Governo novo, chegaria para controlar o disparatado défice e o monstruoso Estado. Só que, na pistola, a troika apenas tinha uma munição: a paz em troca da desvalorização salarial. Os portugueses, na ruína, dobraram-se e tornaram-se um aluno perfeito. A ilusão está a dissipar-se. A política John Wayne, a continuar desta forma cega, arrisca-se a tornar o povoado não num lugar de paz mas num deserto de almas penadas, acorrentadas a impostos diz Fernando Sobral no Negócios.
E o mais greve nisto tudo é que o apocalipse anda a ser anunciado por fontes diversas, que até não acreditam nas mistificações do calendário maia. É que já não bastam os governos e os especuladores financeiros a quererem assassinar pela fome, pela miséria e pelo empurrão para o suicídio dos marginalizados do sistema e é toda a sociedade global a destruir ecossistemas fragilizados para explorar jazidas de petróleo em terrenos xistosos, madeiras em florestas dizimadas ou para atulhar de lixo os oceanos do planeta. Escrevia há dias Mário Vieira de Carvalho no Público: nada define melhor a época em que vivemos do que a extrema contradição entre o grau de conhecimento que os humanos adquiriram sobre si próprios, a natureza, a sociedade, o mundo, o cosmos, e a pulsão de suicídio de que estão possessos. O fim da espécie humana é algo que já não se coloca como hipótese longínqua, mas sim como certeza que se torna cada vez mais próxima no nosso horizonte histórico. A continuar esta desvairada corrida para a catástrofe, fica em aberto apenas um de dois desfechos: ou os humanos liquidam a natureza, liquidando-se do mesmo passo a si próprios; ou a natureza se salva á custa do autogenocídio da espécie humana.


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