sexta-feira, 24 de agosto de 2012

POLÍTICA: Aqui e além, algumas manifestações de desânimo


Nestas páginas tenho manifestado o otimismo de quem vê as injustiças a manifestarem-se à volta como resultado das diatribes dos defensores do capitalismo neoliberal e as julga ultrapassáveis com revoluções redentoras. Daquelas em que, maniqueisticamente os maus da fita (banqueiros, especuladores financeiros e outros que tais) ardam no inferno e os bons imponham a justiça e a igualdade.
Trata-se de manifestar confiança numa espécie de determinismo histórico, que manda os oprimidos rebentarem com as grilhetas e virarem-se sem medo contra os opressores, devolvendo-lhes o medo já poe eles conhecido na Paris de 1789, em Moscovo em 1917 ou em Havana em 1957.
Mas há quem não me acompanhe neste - reconheço! - exagerado modo de ver, que a lucidez manda conter.
Podemos desejar as utopias, mas as realidades, mesmo quando delas de aproximam, acabam por ficar sempre a grande distância. Como os exemplos do que se converterem depois essa mesma Paris, esse mesmo Moscovo  ou essa mesma Havana vieram lamentavelmente confirmar.
Mas o que tenho lido, nos últimos dias, nas crónicas de Viriato Soromenho Marques, de Daniel Oliveira ou de Boaventura de Sousa Santos é a descrença em quaisquer amanhãs que cantem. Pelo contrário, o que resulta das suas palavras é um pessimismo instalado quanto à possibilidade de se perder a própria democracia. E os seus argumentos não deixam de ser pertinentes para o mais crédulo dos Pangloss a contas com terramotos dramáticos no quotidiano de milhões de pessoas.
Escreve o sociólogo de Coimbra numa das páginas da «Visão» de ontem:
No Norte, o neoliberalismo impõe a austeridade às grandes maiorias e o resgate dos banqueiros, substituindo a proteção social dos cidadãos pela proteção social do capital financeiro.
No Sul, o neoliberalismo impõe a sua avidez pelos recursos naturais, sejam eles os minérios, o petróleo, o gás natural, a água ou a agroindústria.
Os territórios passam a ser terra e as populações, que nele habitam obstáculos ao desenvolvimento que é necessário remover quanto mais rápido melhor.
Quando a democracia concluir que não é compatível com este tipo de capitalismo e decidir resistir-lhe, pode ser demasiado tarde. É que, entretanto, pode o capitalismo ter já concluído que a democracia não é compatível com ele.
Pelo que assim fica expresso, importa não ficar indiferente aos ataques que, diariamente, vão surgindo a esse ideal de democracia enquanto espaço de liberdade de expressão e de implementação de justiça social tal qual tem sido pensado na nossa cultura ocidental. E será fundamental que os mais timoratos percam o medo de se indignarem ou que os mais acomodados saiam do seu conforto e militem pelo tal mundo novo a sério de que falavam os versos de António Aleixo. Aquele em que os jovens não sejam obrigados a emigrar para conseguirem sobreviver, em que o direito à habitação, à saúde e à educação voltem a ser inquestionáveis e em que se desminta a torpeza de só existir abastança se uns poucos puderem ter tudo e aos outros restarem umas migalhas...

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