sábado, 1 de setembro de 2012

LIVRO: «Jesus Cristo Bebia Cerveja» de Afonso Cruz


Não foi fácil encontrar o romance mais recente de Afonso Cruz e que alguma crítica tanto elogiava. Apanhados pela falência da empresa contratada para os distribuir, os livros da Alfaguara andaram arredados dos seus leitores e só alguma persistência nos levou enfim à sua compra.
Mas valeu a pena o esforço: estamos perante um dos melhores romances portugueses do ano, empurrando para a irrelevância aquilo que Peixoto ou Gonçalo Tavares têm produzido ultimamente. Se existem escritores que valem a pena ler da geração mais jovem, Afonso Cruz e Valter Hugo Mãe estão claramente na dianteira.
Este Jesus Cristo Bebia Cerveja  mostra o Alentejo como se fosse um cenário de westerns spaghettis, povoado de gente singular. Mas, de entre os muitos personagens salientam-se Rosa, cujo buço e pelos nas pernas não eximem do fervilhar da testosterona dos machos em volta entre os quais o velho professor, já septuagenário, apostado em ajudá-la a cumprir o sonho da avó: ver Jerusalém antes de morrer.
É assim que o avião convertido em bar de alterne volta a momentaneamente parecer ganhar altitude nos ares para uma Terra Santa, que não é mais do que a aldeia comprada por uma inglesa abastada e cujos habitantes são forçados a disfarçarem-se de muçulmanos e de judeus.
A imaginação de Afonso Cruz é delirante e, nesta altura em que as escritas, as imagens e os sons parecem espelhar o estado depressivo de toda a gente, Jesus Cristo Bebia Cerveja acaba por se revelar um belíssimo romance, muito bem escrito e onde um certo espírito bunueliano parece reinar à solta por entre os personagens.
E, ainda como complemento, temos um excelente livrinho em que um cowboy se apaixona pela rapariga que viera matar por contrato a um bar do velho Oeste.

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