domingo, 23 de setembro de 2012

POLÍTICA: Ninguém os perdoará!


Depois de muitas semanas de pessimismo amargo, o escritor Baptista Bastos voltou a dar sinais de otimismo na sua mais recente crónica no «Jornal de Negócios»: Algo de muito forte está a mover-se na sociedade portuguesa. As pessoas estão fatigadas do jogo malabar de mentiras e substituições de poder que nada alteram e tudo diminuem.
Essa novidade tem muitas explicações mas, porventura, a mais curiosa e pertinente proveio de um filósofo, cujos escritos raramente me interessam: José Gil. Que, ao procurar justificação para as imensas manifestações de 15 de setembro aventou numa entrevista a Anabela Mota Ribeiro que as pessoas quiseram manifestar-se por manifestar-se. Dizer: Eu existo! Eu sou uma presença! Tenho direito porque existo! Porquê? Porque estou constantemente a ser excluído. Ameaçado de exclusão pelo desemprego. Ameaçado em relação ao futuro E o Governo não olha para mim.
À luz desta análise compreende-se melhor a enorme amálgama de camadas sociais vindas para a rua a manifestarem-se quanto ao seu direito em existirem, recusando renderem-se às várias formas de exclusão impostas pelos ministros de Passos Coelho, quando incitaram os jovens à emigração, condenaram os mais pobres de entre os mais pobres à mais total indigência, e remeteram os estratos médios da sociedade a uma proletarização forçada e acelerada.
No «Jornal de Negócios» a jornalista Elizabete Miranda observa que Passos Coelho quis tanto cavar mais fundo o fosso entre o capital e o trabalho, que acaba por os unir contra o Estado.
Até porque o argumento da competitividade não colhe se quiser ser obtido apenas à custa da redução dos salários de quem trabalha. Por muito que, na perspetiva de Fernando Sobral, na mesma publicação, seja evidente o plano congeminado pelas cabeças de Gaspar, Borges e Moedas, acolitados por Passos Coelho enquanto seu prestável testa-de-ferro:
Eles querem tornar Portugal numa economia exportadora como Taiwan ou Singapura, com baixos salários, e onde o mercado interno é irrelevante. Ou seja, será apenas uma economia exportadora comandada por multinacionais que aqui encontram um ambiente empresarial ultraliberal. É por isso que a ideia da TSU não é inocente.
E é curioso constatar como já se enervam os maiores defensores desta solução estratégica para Portugal. Um dos seus mais acérrimos representantes, o jornalista João Cândido da Silva conclui assim um seu editorial no mesmo «Jornal de Negócios»: Ninguém os obrigou a aceitar o fardo e ninguém lhes perdoará o falhanço por não saberem estar à altura das circunstâncias.
Eis, pois, uma ameaça que deverá inquietar seriamente os atuais ministros: então, eles que tinham ido para o governo para servirem de carne para canhão da guerra aguda entre o seu idolatrado capital e os odiosos trabalhadores, vêem-se criticados até por quem os deveria ter nas palminhas?
O raspanete de Carlos Moedas aos empresários e, sobretudo as sugestões parvas de Passos Coelho a Belmiro de Azevedo ilustram bem a sensação de terem o chão a fugir-lhes debaixo dos pés, que deve ser comum aos muito contestados ministros e secretários de Estado, já incapazes de irem a reuniões e visitas aos mais recônditos recantos do país porque estão certos de lá terem a esperá-los um coro ruidoso de gente indignada!

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