segunda-feira, 3 de setembro de 2012

POLÍTICA: recordar a fábula do sapo e do lacrau


Afinal a Universidade de Verão do PSD sempre serviu para alguma coisa, quando ouvimos a insuspeita ministra da Justiça a defender que estamos ainda longe de encontrar a demonstração em como a gestão privada consegue ser mais qualificada e eficiente do que a gestão pública.
Não é que discordemos, pelo contrário! Concordamos em absoluto com a senhora ministra. Só nos podemos interrogar sobre duas possibilidades: o que é que ela anda a tomar para dizer algo que é exatamente o contrário da filosofia ultraliberal do Governo que integra? Ou, se ela acredita mesmo no que disse, o que é que ainda está a fazer nesse mesmo Governo?
Na outra Universidade de Verão, a do PS, Ana Gomes também se distinguiu por dizer aquilo que muitos de nós estão convictos: chegará o momento em que Paulo Portas não quererá associar-se ao desastre social e económico promovido por Passos Coelho e pelos demais ministros do PSD ou independentes e quererá afirmar a diferença do CDS na sua estratégia de querer vir a liderar a direita. Disse a eurodeputada em causa: Nunca tive dúvidas em que chegaria o momento em que Paulo Portas arranjaria um pretexto qualquer para começar a fazer exigências dentro da coligação e, eventualmente, a lançar os olhos para alternativas, quando as coisas começassem a aquecer. E Ana Gomes lembrou, a propósito, a conhecida fábula do sapo e do lacrau: O sapo vai atravessar o canal e o lacrau vai de boleia, mas, a certa altura, pica o sapo, tem que picar porque lhe está na natureza, mesmo correndo o risco de ir ao fundo.
Mas são os próprios comentadores de alguns jornais quem surgem a avançar com a mesma tese, como é o caso de Nuno Saraiva no «Diário de Notícias»: Nos últimos tempos, temos assistido a um crescimento das divergências públicas entre os dois partidos que compõem a coligação no Governo. Primeiro foi a oposição do CDS a novos aumentos da carga fiscal e ao alargamento aos privados do corte dos subsídios de Natal. E, mais recentemente, o dossiê da privatização da RTP trouxe a lume novos sinais de tensão política. (…) Fôssemos um país saudável do ponto de vista económico, e não se desse a circunstância de estarmos sob a alçada de um programa de assistência financeira, e já a coligação no poder tinha metido os papéis para o divórcio político.
Esse divórcio anunciado entre os dois partidos da coligação será desejável, mas os danos por eles causados poderão ser extremamente perigosos como lembra no mesmo jornal um conhecido comentador de direita, Pedro Marques Lopes: a democracia corre sérios riscos. Atirar ainda mais pessoas para a pobreza, retirar ou dificultar o acesso à saúde e educação não será sustentável politicamente numa fase em que tanta gente está privada dos mais básicos bens. Ou, num blogue de esquerda, o Arrastão, o Sérgio Lavos: o país está a ser destruído por esta turba de fanáticos incompetentes, é preciso parar esta gente que não irá retroceder no caminho escolhido. A austeridade não é solução - e não é preciso vir o hipócrita Cavaco vir sugerir isto, ainda por cima culpando a troika pelo programa além da troika que o Governo PSD/CDS decidiu implementar. Até quando aguentará o país um Governo comandado por alguém como Miguel Relvas?
A urgência de outras práticas políticas é sentida por uma ampla maioria dos portugueses, que se vai dissociando da abulia em que se deixou convencer da inevitabilidade das malvadezas sobre ele cometidas. E que precisa de ser associado à resolução da tremenda trapalhada para que foi arrastado por quem só se deixou guiar pela pressa em chegar ao «pote». No «Jornal de Notícias» defende o jurista Pedro Bacelar de Vasconcelos: Sem políticas capazes de gerar confiança, sem motivos de esperança que projetem o futuro, é difícil resistir aos apelos da selva e à lógica do "salve-se quem puder". As dificuldades que enfrentamos requerem o envolvimento e a mobilização dos cidadãos se quisermos preservar a sociedade democrática que, embora tardiamente, conseguimos construir.
Estamos, pois, num impasse para o qual não faltarão soluções tão só se expulse do poder esta gente sem qualidades. E, por falar de gente que, direta ou indiretamente, tem causado tanta morte e sofrimento em quem lhe padece os efeitos das suas decisões, o fim-de-semana ainda ficou marcado pela voz lúcida e sábia do Prémio Nobel sul-africano, o bispo Desmond Tutu, que propôs algo que só podemos apoiar: que George W. Bush e Tony Blair devem ser julgados em Haia por causa da guerra no Iraque.

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