sábado, 10 de novembro de 2012

DOCUMENTÁRIO: «African Cats» de Keith Scholey (2011)



Um dos problemas nos filmes da Disney com animais é a  sua humanização excessiva  ao sermos manipulados no sentido de aceitarmos como boa a descrição em off, que tende a empolar a relevância dos valores familiares.
Não quer dizer que não haja algo de verdadeiro nessa visão, mas ela parece criar todo um condicionamento manipulador destinado a fazer prevalecer essa matriz disneyana  de características ideológicas iminentemente conservadoras.
Não me admiraria que o argumento fosse escrito previamente nos estúdios de Los Angeles e a equipa de rodagem fosse então para a Reserva de Masai Mara recolher imagens ilustrativas de tal texto prévio.
E, como o espectador rende-se muito mais facilmente a protagonistas escolhe-se uma chita, Sita, e uma família de leoas liderada pela matriarca Layla, para demonstrar a relevância do papel materno na sobrevivência das crias, investindo doses reforçadas de argúcia e de coragem para contornar todas as ameaças.
É assim, que vemos Sita enfrentar leões, hienas e outras chitas, para salvaguardar a vida das suas cinco crias, das quais só acabarão por sobreviver três.
E as leoas do Bando do Rio não hesitarão em coligar-se, quando dois leões vêm desafiar o seu macho Fang e, timorato, este bate em debandada. Serão elas a acautelar a salvaguarda da vida  das suas crias, que não seriam poupadas pelos que estavam decididos a serem os novos procriadores do grupo.
Tal qual um argumento cinematográfico com atores, o filme segue duas histórias em paralelo com momentos de contemplação, de afeto e de drama. Mas, porque se trata de um filme da Disney e convirá não atormentar as almas infantis com imagens explicitas da morte de alguns dos animais, estas quase são omitidas na totalidade, não se vendo mais do que o momento em que um antílope é derrubado por um dos seus predadores.
Um documentário destes destinado às salas de cinema provoca reações ambíguas em quem o veja com algum sentido crítico. Por um lado  reconhece-se que os estúdios do criador de Mickey continuam a manter um padrão ideológico reacionário sob o disfarce de filme sobre animais. Por outro não pode deixar de reconhecer-se o sofrimento destes bichos, que vivem constantemente sob o receio de não conseguirem sobreviver aos constrangimentos de um espaço cujos fatores mais determinantes - a começar pelo clima! - não condicionam.

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