quinta-feira, 29 de novembro de 2012

POLÍTICA: o velho ainda não desapareceu e o novo ainda não nasceu


Há uma frase do Gramsci que volta a ter grande pertinência nos tempos que vão correndo: (estamos a viver) quando o velho ainda não desapareceu e o novo ainda  não nasceu. Mas o processo está em marcha»
Entendamo-nos: este é o  tempo em que o capitalismo tem a plena noção da incapacidade de sobreviver para além do seu presente estado de expressão global. Conseguir que, à escala planetária, se aceite a lógica da liberdade dos mercados e se continuem a gerar mais valias produtivas espoliadas por oligarquias cada vez mais reduzidas (os tais 1% versus os 99% de explorados) tem um limite, que já se perspetiva por muito que os países emergentes e o capitalismo de estado chinês adiem essa morte anunciada.
O problema, como o refere Serge Halimi no editorial do «Le Monde Diplomatique» deste mês, é que os principais interessados na mudança histórica para um mundo mais justo ainda se deixem enganar sucessivamente por discursos de quem se revela depois inimigo dos seus interesses. Que é a questão de hoje em dia: quantos dos quinhentos portugueses atirados diariamente para o desemprego votaram em Passos Coelho nas últimas legislativas? Quantos reformados e pensionistas foram atrás do suposto partido dos contribuintes?
Há também uma espécie de doença infantil de muitos dos contestatários deste Governo, que os faz aderir à fácil demagogia de associar os atuais ministros e deputados à categoria geral de políticos - segundo eles todos corruptos e oportunistas - o que inviabiliza a comprovação de uma realidade fácil de exemplificar: há políticos e políticos, não se devendo confundir os diasloureiros e duartelimas com quem tem levado a vida a remar contra a maré na tentativa de transformar o mundo numa coisa digna e justa.
De uma vez por todas é importante denunciar o discurso demagógico antipolíticos como o melhor aliado de quem quer manter e aumentar as desigualdades seja à pala de uma democracia formal, seja de uma forma de fascismo como a que, por Europa fora, aparece na forma de «Auroras Douradas», «Frentes Nacionais» e quejandos. Porque, como refere Serge Halimi no texto em causa:
Ás vezes um escândalo emporcalha um patrão, às vezes acaba com outro, mas sem pôr em causa as estruturas que pariram a atividade desses homens e graças à qual alcançaram poder. Em contrapartida, a prevaricação de um autarca ou de um ministro, a ostensiva capitulação de um governo diante de um lóbi, o financiamento duvidoso de uma campanha eleitoral recaem de imediato sobre o Estado como um todo. Minando a sua legitimidade para cobrar impostos, para organizar um território, para mobilizar uma nação.
Um pouco por todo o lado no mundo atual, povos exasperados inclinam-se no sentido da mudança. Mas por falta de instrumentos, antigos ou novos, para porem em prática os seus desígnios, hesitam, marcam passo, às vezes fazem marcha atrás. Contradizendo assim todas as suas esperanças.
Esperemos que os sofrimentos de hoje deem sabedoria a quem escolherá outro caminho, quando for caso de comparecer novamente a um ato eleitoral.

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