segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

DOCUMENTÁRIO: «Camping» de Paula Gonzalez e Nuno Baptista



Camping de Paula Gonzalez e Nuno Baptista é um documentário confrangedor. Recentemente apresentado, depois de estar em rodagem desde 2007, mostra o quotidiano de campistas no parque do Inatel na Costa da Caparica ao longo das várias estações do ano.
Se, há muitos anos, víamos um filme como «Feios, Porcos e Maus» de Ettore Scola como o paradigma de um subproletariado italiano sem pinga de consciência política numa época em que a Itália estava à beira do nunca concretizado «compromisso histórico», Camping bem pode representar algo de parecido no Portugal de hoje ao mostrar como, nesse mesmo estrato, a coscuvilhice e o mau gosto andam de mãos dadas.
Comparadas com as festas aqui apresentadas, as que Miguel Gomes filmara no seu «Aquele Querido Mês de Agosto» quase pareceriam ter a sofisticação de um espetáculo num casino de Las Vegas. Mesmo que as músicas e as coreografias alinhem pela mesma subcultura. Porque reconhecidamente os pobres, aqui a mimetizarem mal os costumes pequeno-burgueses, são preconceituosos, têm gostos musicais pimbas e, à falta de outras identidades, vão procura-las a clubites absurdas.
É por isso que olho para o filme com algumas dúvidas quanto às vantagens da sua exibição, porque afinal mostra, sem nenhuma forma de crítica, uma triste arte de ser português. Afinal aquela que nos trouxe até ao atual estado de coisas, já que é fácil adivinhar em muitas daquelas pessoas, iludidos eleitores do governo atual.
Cenas como as do espetáculo noturno crismado de «Chuva das Estrelas», os queixumes do guarda do parque sempre queixoso de quanto tem de trabalhar ou os autoelogios de quem se compraz por ter tendas maiores e mais bem equipadas do que as dos vizinhos fazem-nos corar de vergonha.
E lembrar Almada Negreiros, quando dizia: "um país é o conjunto de todos os defeitos e qualidades. Coragem portugueses pois já só vos faltam as qualidades".

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