sábado, 5 de janeiro de 2013

POLÍTICA: o Paraíso ainda mora longe de Varsóvia!


A Polónia desempenhou um papel de primeira linha nos acontecimentos, que iriam culminar na queda do Muro de Berlim e na implosão da União Soviética. Muito provavelmente contando com a orientação de Karol Wojtyła e da CIA, Lech Walesa e os seus cúmplices do Solidarnosc prometeram um mundo novo aos compatriotas, com muitos bens só acessíveis aos privilegiados do capitalismo ocidental, fornecidos por gente altruísta da estirpe da família de Alexandre Soares dos Santos, hoje um dos grandes beneficiados do «milagre polaco» (lamentavelmente só para alguns!).
Duas décadas depois os benefícios estão à vista, como se depreendem destes dados colhidos de um artigo do historiador e jornalista Dominique Vidal no «Le Monde Diplomatique»:
· 13 dos 38 milhões de polacos são pobres ou estão em risco de pobreza; e só 1,6 milhões recebem alguma proteção social.
· A percentagem de crianças que vive abaixo do limiar de pobreza atinge os 30%, e 60% delas em idade escolar não têm meios para pagar a cantina;
· 66% das famílias não goza férias, 70% das quais por motivos financeiros;
· 40% tem dificuldades de acesso aos cuidados de saúde;
· Uma em cada cinco famílias não tem como aquecer a sua habitação;
· Um em cada cinco apartamentos não tem casa de banho, duche ou lavabos;
E, no entanto, só entre 2007 e 2013, a ajuda da União Europeia cifrou-se em 67,2 mil milhões de euros aos quais se juntarão outros 80 mil milhões entre 2014 e 2020. A que se acrescentaram 130 mil milhões de euros em investimentos estrangeiros.
Poder-se-ão sempre invocar os dois milhões de empregos criados se, em compensação, não se esquecerem os cinco milhões perdidos.
Daí que a percentagem de desempregados declarados ultrapasse os 13% da população ativa, dos quais só um quarto recebe um subsídio, que, em média, é de 150 euros. Ou que a taxa de natalidade tenha descido de 2,4 para 1,4 filhos por mulher.
A complementar este cenário de pré-catástrofe vale a pena ainda considerar que a pensão de reforma e a pensão de invalidez mínimas ascendem a 177 euros mensais, ou seja, menos do que os 196 considerados como imprescindíveis à sobrevivência vital. E que um quarto num lar de idosos não fica por menos de 625 euros por mês.
Quer isto dizer que se passou de um purgatório quase paradisíaco para o insuportável inferno capitalista? Claro que não! Passou-se sim da implementação falhada de uma perspetiva de comunismo (que nunca se chegou verdadeiramente a estabelecer!) para uma enorme ilusão, que vitimou sobretudo a classe operária e a intelectualidade anteriormente acauteladas durante o regime de Gomulka ou de Gierek. E que hoje só podem sentir alguma nostalgia pelo que perderam. Mesmo que, por ora, a Polónia continue a ser um país governado à direita por um conjunto de políticos ainda há pouco tidos como entusiásticos apoiantes das políticas agressivas de George W. Bush…
Para os polacos o afiançado paraíso ainda continua muito distante...

Sem comentários:

Enviar um comentário