sexta-feira, 26 de abril de 2013

POLÍTICA: A queda dos cravos


Não é que o discurso de cavaco silva na cerimónia do 25 de abril na Assembleia da República tenha sido uma surpresa. Nós já conhecemos bem a espécie de homem que ele é: mesquinho, vingativo, preconceituoso, ou seja a antítese lapidar do que os militares da estirpe de um Salgueiro Maia sonhavam para perfil do político pós-Revolução.
Mas convenhamos, que também não teria estranhado um tipo de discurso mais comedido em que a sua lengalenga nada adiantasse, mas também nada inquietasse.
É que ainda estava fresca a vaia monumental dos manifestantes do 2 de março no Terreiro do Povo (como lhe chamou o Nuno Ramos de Almeida) e os efeitos subsequentes nas sondagens.
Ora, como esses indicadores da opinião já começavam a infletir, até seria crível que, cobardemente, o verme de Belém se mantivesse acoitado na sua toca.
Só que o seu instinto manda mais do que a razão como se viu recentemente no vergonhoso esquecimento de Saramago na Feira do Livro de Bogotá, quando se celebrava a Literatura Portuguesa. E teve de ser o homólogo colombiano a corrigir essa leviana falta de inteligência.
Agora cavaco deixou esse mesmo mau instinto voltar à emergir em todo o seu esplendor neste discurso inqualificável!
Não imagino como poderá o Partido Socialista esquecê-lo - como aliás também já não lhe poderia desculpar a sanha conspiratória contra o anterior governo até o conseguir derrubar. O que coloca uma questão óbvia: tendo em conta que a crise irá acentuar-se já este fim de semana - se, acabada a reunião do conselho de ministros de hoje, passos coelho ou um dos seus cúmplices vier a anunciar todos os cortes já combinados com a troika! - a clarificação da relação de forças só poderá advir de eleições.
É que surgindo uma alternativa à esquerda capaz de forçar a troika a negociar as novas condições para levar por diante a recuperação da destruída economia portuguesa, como poderá haver alguma forma de coexistência com um tão óbvio inimigo ainda pendurado na mais alta magistratura do Estado?
Porque não duvidemos: o filho do gasolineiro de Boliqueime continua a alimentar um ódio visceral à esquerda em geral e a defender os interesses dos seus amigos do costume, que tanto dano causaram ao país com o BPN e todos os negócios similares em que andaram a sugar o Estado e os contribuintes.
Dizia Mário Soares que, por muito menos que isto, tinha D. Carlos levado os tiros mortais na Rua do Arsenal. Ou, acrescentaria eu, finara-se Sidónio Pais na Estação do Rossio…
Como não é essa a alternativa exequível para resolver o problema, a esquerda liderada pelos socialistas, que substituir este (des)governo de má memória terá de considerar o que irá fazer com este «presidente» na sua equação do problema subsequente à mudança de ciclo político, Sabendo-se, à partida, que é só dar-lhe a oportunidade e lá voltará a tentação para largar a sua peçonha. Afinal aquela que foi tão forte no discurso, que até fez tombar a floreira com cravos postada à sua frente no tal discurso.
Cravos, que - não duvidemos! - irão reerguer-se a cobrir com o seu odor forte tão nefasta pestilência!

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