quinta-feira, 30 de maio de 2013

FILME: «Entrada de pessoal» de Manuela Frésil

Não sei se será da idade, se pelo facto de a realidade se tornar cada vez mais impositiva sobre todos os nossos pensamentos e comportamentos, tornando cada vez mais fúteis as tentações facultadas pelo mero entretenimento: a verdade é que prefiro quase sempre os documentários aos filmes em que se ficciona essa mesma realidade. Mesmo reconhecendo que, em cada documentário, sobra sempre uma componente de fição.
Este filme de Manuela Frésil, estreado nos ecrãs franceses no início deste mês, é um bom exemplo disso mesmo: passado num matadouro associado a uma fábrica de derivados de carne, temos ali reproduzido o quotidiano dos seus operários submetidos a ritmos intensivos no trabalho em cadeia, que os priva das suas características humanas e os transforma em meros robôs.
O filme constitui uma metáfora eloquente sobre o sistema capitalista e a forma cada vez mais radical como nele se processa a exploração dos seus trabalhadores, submetidos a uma desumanização crescente. As imagens sangrentas da carne a ser desossada e a transformar-se nos produtos depressa levados para as arcas dos hipermercados não são bonitas de se ver. Mas é essa a sina de muitos quantos vivem dos seus salários:  o ambiente em que passam os dias não é nada agradável de se viver podendo até provavelmente vir a causar problemas sérios de saúde.
Este é pois daqueles filmes em que se sente a necessidade de uma outra forma de vida, de sociedade.



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