quarta-feira, 15 de maio de 2013

POLÍTICA: um passo atrás para dar dois em frente


Já passaram quatro dias sobre a publicação da mais recente publicação do «Expresso», mas múltiplos afazeres só me permitiram lê-lo atentamente no dia de hoje. Com proveito já que encontrei aí dois textos de opinião justificativos de neles nos quedarmos detalhadamente aqui no blogue.
No primeiro Pedro Adão e Silva foca-se na total instabilidade conferida por este (des)governo a milhares de portugueses, sejam eles funcionários públicos ou reformados e pensionistas, que se sabem sob a ameaça de uma terrível espada de Dâmocles, muito embora desconheçam quando e quão profundamente a sentirão enterrar-se-lhes na carne.
Ora, o primeiro dever de um Governo digno desse nome é ater-se prioritariamente aos interesses dos seus cidadãos e oferecer-lhes um quadro de estabilidade sobre o qual possam estabelecer as suas aspirações, ambições ou demais projetos de vida.
O que sucede com a equipa de passos coelho é o contrário mais absurdo, como conclui o sociólogo do ISCTE: Como se não bastasse a degradação social, as exigências políticas associadas à austeridade e à ausência de qualquer perspetiva de saída para os nossos bloqueios económicos, temos ainda um Governo que abdica do seu papel como fator de segurança e estabilidade para se tornar, objetivamente, um agente de incerteza e de ansiedade. Exatamente com que propósito, não se chega a perceber.
O outro texto a que vale a pena voltar é assinado por Daniel Oliveira e tem a ver com a sua convicção - cada vez mais sólida! - em como a saída do euro constitui a única alternativa para a crise portuguesa.
Pessoalmente, e depois de um entusiasmado apoio à entrada na União Europeia, e no euro, vejo-me a partilhar igualmente essa hipótese.
Se levei anos a não levar a sério as posições de João Ferreira do Amaral, sou cada vez mais levado a concordar com a justeza das suas opiniões há muito defendidas com grande ardor quanto às consequências negativas de nos inserirmos na moeda única.
Ademais, o Daniel Oliveira levanta uma questão pertinente em que me sinto particularmente representado: também eu internacionalista e europeísta, acreditei na possibilidade de estarmos à beira de criar uma entidade política muito forte do Atlântico aos Urais, capaz de rivalizar com as demais superpotências mundiais, presentes e futuras, sejam elas situadas em quaisquer dos demais continentes.
Não ponderara a possibilidade de ver as instituições europeias - da Comissão ao BCE - tomadas de assalto pelos mercenários da Goldman Sachs e de outros grupos económicos e financeiros, que as orientaram para a defesa dos seus acionistas em detrimento dos interesses dos povos do continente. Daí a total concordância com a conclusão do artigo do ex-dirigente do Bloco de Esquerda, quando ele defende uma nova forma de patriotismo: não é um patriotismo  identitário, assente em mitos absurdos sobre a grandeza do nosso passado. É um patriotismo baseado no princípio de que a soberania do povo deve repousar na sua democracia. E deve estar onde essa democracia se exerce. O regresso à pátria, com a inevitável saída do euro, é a assunção de uma derrota. De uma derrota da primeira geração que se parecia ter livrado, por uns tempos, do poder opressivo de uma elite provinciana e medrosa. De uma derrota de um projeto generoso que alguns, poucos, tinham para a Europa. De uma derrota de uma esquerda, onde me incluo, internacionalista, europeísta e cosmopolita. Mas não assumir as consequências desta derrota é condenar a democracia, o Estado social, a defesa da igualdade social e o futuro dos portugueses. Por agora temos de dar um passo atrás. Para não recuarmos cinquenta anos.
É que, já Lenine defendia as vantagens de, em certas circunstâncias, dar-se um passo atrás para nos podermos projetar dois adiante. E esta parece ser uma dessas singulares conjunturas...

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