sexta-feira, 28 de junho de 2013

FILME: «Estórias» de João Gomes


Recentemente estreado fora do circuito das salas comerciais o filme de João Gomes é revelador da solidão em que vivem muitos portugueses.
O caso mais paradigmático nele abordado é o do já desaparecido Senhor do Adeus, esse João Serra, que andou anos a fio a dizer adeus aos automobilistas na zona das Picoas ou do Restelo, porque, como explicou em múltiplas entrevistas, encontrou assim a forma mais saudável de vencer o incómodo da casa vazia durante a noite, já que nunca foi dado a sentar-se no sofá a ver televisão.
Mas o filme de João Gomes visita, igualmente, o quotidiano de outras três pessoas dispostas a superarem o peso de viverem sozinhas. Há assim a solteirona, que passa os dias entre o local de trabalho, as ruas aonde faz jogging ou as aulas no ginásio, ostentando um comportamento obsessivo eloquente quanto ás razões de nunca ter encontrado um parceiro afetivamente compatível.
Temos também a viúva, que se tornou num dos rostos mais conhecidos dos canais generalistas de televisão por animar programas de grande audiência enquanto assistente contratada para aplaudir. E aonde os sorrisos de simpatia não disfarçam a inveja (esse tão mitificado defeito luso!), que diz suscitar à sua volta.
Ou ainda o divorciado que passou a organizar jantares com grupos de pessoas desconhecidas entre si e onde põe à discussão coisas tão absurdas como o que gostariam de fazer se se vissem no derradeiro dia de existência do planeta.
Realizado com poucos meios, mas com incontestada eficácia narrativa conferida pela montagem, «Estórias» é um bom exemplo do cinema nacional apostado em partir de realidades fortes para construir universos ficcionais demonstrativos de muitas das idiossincrasias escalpelizáveis à nossa volta.


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