quinta-feira, 27 de junho de 2013

POLÍTICA: Antes quebrar que torcer

Das muitas greves em que participei, a mais difícil aconteceu durante a docagem do petroleiro «Neiva» no Bahrain. 
Os anos setenta, que tanto haviam alimentado as nossas utopias à conta da Revolução de Abril, estavam a dar lugar aos do nosso indignado descontentamento com a inflação à comer-nos os olhos da cara e os patrões a regressarem ao autoritarismo fascista depois do susto, que os tinha dispersado como baratas tontas pelos brasis e por essa europa fora.
Convocada pelo meu sindicato, nenhum associado pôs em causa a hipótese de não acatar a luta em causa, mesmo que a tantas milhas de distância.
Durante esse dia de luta as autoridades locais quiseram entrar a bordo para nos levarem presos, já que o direito à greve não era reconhecido por aquelas paragens e até poderia funcionar como mau exemplo para quem ali dela se apercebia.
Mas a direção do estaleiro - então supervisionado pela Lisnave - opôs-se com determinação às sucessivas tentativas, que nós íamos acompanhando.
E apesar da ameaça de acabarmos numa cela, senão mesmo na ilha deserta para onde o barrigudo rei costumava livrar-se dos seus mais arrojados súbditos, ninguém vergou na decisão de levar por diante a luta.
É esse antes quebrar que torcer, que espero ver hoje cumprido pelos trabalhadores de norte a sul do país. Para demonstrar ao (des)governo, e aos seus patrões representados pela troika, que continua aqui a viver um povo tão indomável, quanto o reconhecia aquele muito citado cônsul romano agastado com a resistência indómita dos lusitanos...


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