quarta-feira, 28 de agosto de 2013

DOCUMENTÁRIO: «Le petit train de bambous» de Carmen Butta

O engenho humano consegue ser admirável: no norte do Camboja os norry permitem à população deslocar-se mediante a utilização das linhas férreas só utilizadas um par de vezes por mês por comboios de mercadorias.
Com quatro rolamentos, uma plataforma feita de bambus e motores vetustos retirados de antigos geradores, estas pequenas composições evitam aos aldeãos os riscos ainda significativos das minas abandonadas nos antigos trilhos e estradas por onde a guerra passou.
Carmen Butta, a realizadora deste documentário de 2008, acompanhou a família de um dos condutores desses norry, percebendo como ela se formou no tempo dos khmers vermelhos, quando o casal recebeu ordem de se unir apesar de nunca se ter conhecido até então. Sobrevivendo à guerra e à fome foram educando as três filhas, que já lhes vão acrescentando netos à tribo.
O progenitor tornou-se condutor de norry por se tratar de ofício bem melhor remunerado do que se continuasse a vender trabalho braçal nos campos de arroz. Agora ele transporta passageiros para consultas médicas, para festas familiares ou para os seus negócios pelas aldeias das redondezas. Mas há também sacerdotes budistas ou taxistas, que aproveitam esse meio de transporte para irem de aldeia em aldeia.
Os carris estão em péssimo estado e eles são muitas vezes obrigados a reparações precárias, tapando as falhas passíveis de suscitarem descarrilamentos com remendos de troncos de madeiras. E o esforço é grande quando duas dessas composições se cruzam em sentido contrário, havendo regras restritas sobre quem terá a prioridade em cada caso: aquele que sair dos carris para deixar passar o outro norry vê-se obrigado a descarregar a carga e os passageiros e a desmontar o próprio veículo.
Para as duas dúzias de condutores o futuro constitui uma preocupação muito séria, porque vão ouvindo falar de planos governamentais para substituir as decrépitas vias férreas e as composições ainda do tempo do colonialismo francês. E temem que a proibição para circularem nos novos carris se cumpra verdadeiramente, já que, por ora, embora a sua atividade seja proibida, a polícia vai fechando os olhos às transgressões e … embolsando os subornos.
Já com olhos nesse futuro previsível os dois genros do protagonista do documentário já se reciclaram em moto-taxistas, cientes de poderem continuar a garantir o sustento da família. Sem esquecerem a importância por quase todos referida em como será fundamental enviarem as crianças para a escola a fim de ascenderem a uma qualidade de vida ainda a todos inacessível...


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