sexta-feira, 23 de agosto de 2013

POLÍTICA: as inquietações de Fukuyama

Num livro recente - “The Origins of Political Order”, 2011 - o intelectual conservador Francis Fukuyama que, aquando da queda do muro de Berlim, fez as delícias da direita internacional com a sua falsa tese do “fim da História”, mostra-se muito cético quanto à bondade da evolução política e social suscitada por este mundo conduzido pelas oligarquias financeiras: a desigualdade em si nunca foi um grande problema na cultura política americana, que insiste mais na igualdade de oportunidades do que na dos resultados. Embora mistificatória, gerações de americanos e de emigrantes ali desembocados, viram a a terra do tio Sam como a das oportunidades, onde, quem fosse trabalhador e mostrasse ambição, conseguiria chegar á condição de rico.
Escolas, igrejas, rádios, televisões e jornais andaram a promover o individualismo, defendendo o conceito de que vigorava o cada um por si levado às últimas consequências. E o poder político e económico cuidou de, desde muito cedo, destruir tudo quanto se assemelhasse a organização sindical, quantas vezes qualificada como se de mafiosos se tratassem.
Mas o descoroçoado Fukuyama teme que o estado atual das coisas não perdure: o sistema só mantém legitimidade se as pessoas continuarem a acreditar que, se trabalharem duro e derem o melhor de si, eles próprios e os seus filhos têm boas hipóteses de progredir, e se tiverem boas razões para pensar que os ricos se tornaram ricos respeitando as regras do jogo.
O que Fukuyama teme é o fim da mistificação: que milhões de norte-americanos sintam a impossibilidade de saírem da sua situação de pobreza e comecem a dar sinais de descontentamento. Que, de um momento para o outro, o movimento occupy wall street venha a ser referenciado nos futuros manuais de História como o batedor, que precede a chegada de numeroso exército.
Para os conservadores norte-americanos em particular, e para toda a direita internacional em geral, o problema é voltarem a colocar-se com pertinência as premissas, que levavam Marx e Engels a perspetivar a iminência de grandes mudanças sociais.


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