sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

SOCIEDADE: A Índia e a violência contra as mulheres

Quase um ano após a violação coletiva de Jyoti Singh, a cólera permanece bem viva na Índia, relativamente à condição aí imposta às mulheres. Daí que tenham pertinente atualidade os dois documentários que David Muntaner e Damien Pasinetti aí foram rodar neste último ano.
Em «O País que não gostava das mulheres» acompanhamos quatro de entre elas, maltratadas por uma sociedade indiana tradicionalmente misógina.
Saroj é, aos 11 anos, a personificação de um milagre. Na aldeia do Rajastão onde nasceu, feudo dos antigos guerreiros Rajput, as meninas são assassinadas à nascença pelas sogras e cunhadas da mãe, sobretudo para evitar os custos associados à obrigatoriedade de pagamento de dote quando se viessem a casar.
Apoiada por Gadjendra, desde há trinta anos a militar ativamente contra o infanticídio das meninas na sua região, a mãe de Saroj salvou-a de imitar o destino dado a duas irmãs mais velhas: ser sufocada até à morte.
Em Delhi encontramos Sunita que, aos 25 anos, deixou o marido por ter sido violentamente agredida durante um ano. Números oficiais demonstram que 65% das mulheres indianas são vítimas de violência doméstica.
Apesar de ter regressado à casa paterna, ela é aí pressionada a regressar a casa do marido para evitar a desonra da sua família. Para a mãe dela, mais importante do que o sofrimento da filha, é a necessidade de salvar as aparências.
Suzanne vive em Calcutá e tem 38 anos. Sujeita a uma violação coletiva, ela decidiu bater-se até às últimas consequências pela condenação dos seus agressores. Mesmo que a justiça pareça não ter qualquer pressa em tomar a decisão por ela tanto esperada.
E, em último lugar, conhecemos Gulab Bai, uma anciã de 84 anos, que é uma das muitas viúvas abandonadas nas ruas de Vrindavan, um dos principais locais de peregrinação do país.
Na Índia, quando o marido morre, a mulher é banida de casa sob o argumento de suscitar azar a quem com ela convive.
Falando desassombradamente sobre os seus sofrimentos essas quatro mulheres denunciam o rosto terrivelmente machista do país, ainda que manifestando a esperança em que algo mude rapidamente.
No outro documentário - «Sexo, Mentiras e Frustrações» - está em causa o puritanismo injustificado de uma sociedade, que tivera no passado a cultura inerente ao «Kamasutra». Há quem avance, quase no final do filme em como a fonte de todos os males poderá ter residido no colonialismo britânico então caracterizado pela bafienta moral vitoriana.
Ouvindo médicos, jornalistas e sociólogos, os realizadores investigam as razões para um tal retrocesso. É que a Índia está a modernizar-se e a desenvolver-se, mas a emancipação sexual tarda em verificar-se.
Os jovens indianos crescem num ambiente ultraconservador, em total contradição com o que veem na Internet, no cinema ou na publicidade. Em que a imagem da mulher é tratada de forma particularmente degradante.
Há muito que as ocidentais são vistas como libertinas e, hoje, os filmes de Bollywood e a televisão tendem a apresentar a mulher indiana como um mero objeto sexual.
Esse abismo entre uma Índia medieval e  as criaturas objeto de fantasmas sexuais cria uma enorme frustração e é causa de uma grande incompreensão entre os homens e as mulheres ...


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