quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

ECOLOGIA: as armas químicas despejadas nos fundos marinhos

(DOCUMENTÁRIO: «Armas químicas submersas» de Bob Coen, Éric Nadler e Nicolas Koutsikas(2014))

 No verão passado uma estranha alergia acossou os banhistas das praias da Costa da Caparica e da Linha do Estoril.
Nem então, nem posteriormente, foram dadas explicações para o que esteve na origem desse acontecimento, apesar da visibilidade suscitada pela proibição de acesso ao mar durante alguns dias.
Curiosamente este documentário torna pertinente a questão: e se o escândalo aqui denunciado também estiver na origem de tais alergias?
Durante várias décadas caiu um manto de silêncio sobre o armamento químico despejado para o fundo dos mares no final das duas guerras mundiais e que constituem uma enorme ameaça para o homem e para os ecossistemas.
Mais de um milhão e meio de toneladas de armas químicas por utilizar estão mergulhadas nos fundos marinhos do planeta. Trata-se, é claro, de uma estimativa, porquanto continuam inacessíveis as informações oficiais sobre a quantidade real em causa.
Os venenos nelas contido (gás mostarda, sarin, arsénico, …) vão-se escapando lenta e inexoravelmente dos seus corroídos contentores.. E vão causando vítimas mortais nalgumas comunidades piscatórias ou alterações genéticas nalgumas espécies marinhas.
Até ao início dos anos 70, com um pico entre 1917 e 1945, os exércitos das grandes potências foram despejando sistematicamente o seu indestrutível arsenal de materiais químicos no fundo dos mares, dos lagos ou enterraram-no.
Em 1945, na conferência de Potsdam, os Aliados concordaram em imergir no Báltico, no Atlântico Norte, no Adriático e no Mediterrâneo o conjunto do armamento químico recolhido junto dos beligerantes, não escapando igualmente a esse plano os fundos marinhos ao largo dos Estados Unidos, do Japão e de algumas regiões do oceano Índico.
Alguns documentos entretanto desclassificados e investigações independentes permitiram saber algo do que se passou com esses despejos. Desde então aumenta o número de gente empenhada em localizar e neutralizar essas bombas ao retardador. Mas os obstáculos são colossais: a dissimulação e a imprecisão dos arquivos disponíveis, o segredo militar, os custos da operação de limpeza e a oposição dos que temem ver prejudicadas as indústrias da pesca e do turismo.
Torna-se muito difícil avaliar a extensão da ameaça que pesa nas populações e nos ecossistemas tendo em conta a indiferença dos Estados, que foram responsáveis por esta catástrofe potencial e, agora, se eximem às correspondentes responsabilidades.
A esperança reside num grupo de cientistas, que conseguiram envolver a Organização para a Interdição das Armas Químicas na resolução do problema.
Este documentário, que associa muitas entrevistas a imagens de arquivo, enumera as zonas em risco e mostra quais as soluções possíveis para proceder à limpeza em causa.


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