terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

IDEIAS: os equívocos que carecem ser esclarecidos!

Embora continue muito marginalizado do discurso político mais divulgado, o marxismo merece ser enfatizado enquanto ferramenta fundamental para melhor entender o mundo em que vivemos. Porque, muito embora, sobrem vozes a dá-lo como morto e enterrado, a realidade encarrega-se de o tornar cada vez mais pertinente através das desigualdades crescentes entre os muito ricos e a quase totalidade da população condenada à pauperização. Que dá substância à interpretação de Marx, segundo o qual a História do mundo tem sido sempre a da luta de classes.
Uma das formas de desvalorização do discurso marxista tem sido a da sua associação à praxis leninista na antiga União Soviética. Que demonstraria a responsabilidade do marxismo na génese de regimes totalitários ou de capitalismo de Estado.
Ainda que a diabolização de Lenine e de Estaline também deva ser equacionada em função de argumentos, que tenderão a explicar muitas das razões para terem optado por estratégias condenáveis, não é esse o objetivo desta abordagem nesta altura. Importa, sobretudo, dissociar o que foi a praxis leninista da teoria marxista. Que poderá reforçar o significado das teorias de Marx e de Engels sem os supostos contributos posteriores dos seus confessos seguidores.
Em primeiro lugar todo o enfoque de Lenine vai para a acumulação de capital através do acréscimo da produção. Por isso, mais importantes do que as contradições entre as diversas classes da sociedade capitalista, que conduziriam a uma agudização revolucionária, Lenine interessa-se prioritariamente pela produção, pelos seus meios e pelo mercado por ela gerado.
Aproximando-se mais de David Ricardo do que de Karl Marx, Lenine vai identificar na anarquia da produção a razão das crises capitalistas, por gerarem situações de stocks excessivos. Para ele os capitalistas utilizariam as mais valias confiscadas aos trabalhadores para acumularem o capital com que poderiam adquirir novos meios de produção e assim aumentarem o número dos que continuariam a ser explorados  nas suas fábricas.
Seria esse o motor do capitalismo: o crescimento constante da produção e o aumento do número dos explorados, através da proletarização acelerada dos camponeses arruinados por uma agricultura decadente.
Perante o facto de a Revolução Bolchevique ter ocorrido num país atrasado, que não comportaria as condições materiais necessárias ao sucesso do comunismo, Lenine considerou fundamental a aceleração da evolução da estrutura de criação de riqueza na nova URSS através da industrialização e da eletrificação (que era tida como a pedra de toque da mudança revolucionária da estrutura produtiva soviética).. E, dando ensejo à criação do capitalismo de Estado, que seria verdadeiramente a tradução do que foi o regime soviético, ele opta pela nacionalização da banca, única forma de controlar os fluxos monetários e impedir a acumulação de capital em mãos privadas.
Não se pode pôr em questão a honestidade de Lenine em ponderar na possibilidade de estar a seguir dessa forma a matriz marxista, mas a realidade veio a demonstrar que, em vez de atuar na sociedade de forma a resolver as contradições de classe na perspetiva de uma maior igualdade, o regime soviético secundarizou o seu enfoque sobre as pessoas e quis agir sobre a produção, os meios de produção e os mercados, que constituíam a maior preocupação do seu líder.
Muitas décadas depois Álvaro Cunhal haveria de reconhecer que, sendo o melhor regime em teoria, o comunismo tornava-se difícil de concretizar por ser aplicado por, e a, pessoas concretas.
Em março de 1921, apenas três anos e meio depois de terem chegado ao poder, os líderes da URSS tinham de constatar o fracasso das suas opções e criaram a Nova Política Económica (NEP), um plano estratégico que acentuou o carácter totalitário do regime e apostou na taylorização dos processos industriais (que passaram a nada dever ao que de pior apresentava o capitalismo norte-americano).
Se em 1927 a produção agrícola e industrial já conseguira, enfim, superar a de antes da Revolução, as desigualdades sociais tinham-se agudizado a olhos vistos. Nos campos imperavam os intermediários, que controlavam os mercados. E dariam a Estaline o ensejo de levar por diante os processos expeditivos por que viria a ser conhecido da pior forma.
Mas, em tudo isto, o que sobrara de marxismo? Praticamente nada por muito que a retórica soviética procurasse convencer do contrário...



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