segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

POLÍTICA: Porque a ganância não se dilui, o mundo continua a girar!

Num fim-de-semana em que do Coliseu de Lisboa às ruas de Estarreja se andou a brincar ao Carnaval e em que prevaleceu a lógica do golpe de Estado na Ucrânia, não nos faz mal nenhum pormos os olhos no outro lado do mundo e verificar como anda por lá a luta de classes.
Em tempos os cambojanos suscitaram-nos solidariedade enquanto vítimas da agressão norte-americana na Indochina e, depois, devido à esquizofrenia de um bando de alucinados que quiseram criar uma utopia comunista com base no assassinato sistemático dos opositores. Hoje que quase todos os khmers vermelhos já morreram, poderíamos supor bem melhor o estado das coisas. Mas é ignorar que o país é liderado há vinte e oito anos pelo mesmo primeiro-ministro, Hun Sen, capaz de entretanto ter passado de comunista convicto a ultraliberal não menos fanático. Por isso o cenário político é caracterizado por expropriações no centro da capital em benefício dos especuladores imobiliários, marchas pacíficas de protesto violentamente reprimidas pela polícia e exploração intensiva das operárias das empresas têxteis.
A revolta destas últimas, reprimida a ferro e fogo no início do ano - com o registo oficial de cinco mortos às balas da polícia - só agravou uma situação já extremamente tensa. É que a luta pelo aumento dos salários não dá sinais de abrandar. O que leva muitos a tecer conjeturas sobre como evoluirão os acontecimentos, dada a divisão do país entre a elite corrupta próxima do poder e a maioria dos cambojanos, já exasperados com a ganância dos promotores imobiliários (que os expulsam das suas casas e terras) e dos donos das empresas, que exportam roupa para as grandes marcas europeias e pagam 3 dólares diários às suas operárias.
É por isso que o Camboja parece ter chegado a uma encruzilhada, de pouco valendo a Hun Sen a proibição de qualquer manifestação. É que os protestos, cada vez mais intensos, não desmobilizam sem a garantia de um salário mínimo mensal de 120 dólares...
Alguns milhares de quilómetros a nordeste, os esquecidos do milagre económico japonês do pós-guerra não se revelam menos infelizes. Depois de terem participado na construção do Japão moderno, os operários de Kamagasaki, nos arredores de Osaka há muito viram acabada a época do pleno emprego.

Se nos anos 80 a cidade era o maior centro de mão-de-obra operária do país, com dez mil empregos disponíveis todas as manhãs, agora quase não há quem consiga trabalho. As ruas transformaram-se num cenário de sombras em movimento: os sem abrigo. Hoje, Kama é uma face do Japão que ninguém quer ver...
Atravessando o Pacífico para o continente norte-americano encontramos uma nova corrida ao ouro nas terras do Yukon. E, porque o governo canadiano é extremamente facilitador de quem queira fazer prospeção de minerais no subsolo, não atende a quem possa ser proprietário das terras em causa  - até os índios supostamente «protegidos» nas suas reservas! - autorizando concessões sem qualquer escrúpulo. Mesmo que as empresas mineiras em causa desfigurem a paisagem, poluam as terras, os rios e os lagos e depois declarem falência para não se responsabilizarem pela recuperação do ecossistema!
A luta entre os gananciosos garimpeiros de um lado e os índios e os ecologistas pelo outro, ganha proporções cada vez mais violentas.
Trata-se de mais um exemplo de como o capitalismo selvagem pode ser uma arma de destruição maciça…


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