terça-feira, 1 de abril de 2014

HISTÓRIA: No centenário da 1º Guerra Mundial (1) - a febre nacionalista

«Guerra patriótica» - também se poderia designar assim, aquela que ficou conhecida como o primeiro conflito à escala mundial. Quer olhemos para a História mais próxima, ou mais distante, cada uma das grandes guerras ocorridas no Ocidente tiveram algo de guerra civil: o que foi óbvio em 1939-1945, também o foi para a época da Revolução e do Império, para a Guerra dos Trinta Anos e para as demais querelas dos séculos XVI e XVII.
Em 1870 um partido hostil à guerra franco-alemã desejou a derrota francesa, que precipitaria a queda de Napoleão III. Em compensação, em 1914, a união sagrada impediu que, em todas as nações em guerra, se formasse aquilo que se designaria hoje como o «partido do inimigo».
É verdade que os pacifistas, os anarquistas e os socialistas como George Plekhanov ou Jean Jaurés condenaram o que crismaram de guerra imperialista, mas implicitamente aprovaram-na logo que os exércitos estrangeiros ameaçaram ou ocuparam o território nacional.
Em 1914 cada povo julgou estar a ser ameaçado de agressão. Pelo menos no início da guerra ignora-se o derrotismo, até mesmo na Rússia onde a autocracia czarista estava a ser muito contestada.
Por derrotismo, entre 1914 e 1918, não se entenda o pessimismo desencorajador, que enfraquece a moral da nação e a conduz à derrota, mas o desejo  expresso ou não em que o seu próprio país saia derrotado para que melhor se salve.
Se em França e em Itália existem pequenos grupos católicos, que desejam a derrota como vingança divina contra as perseguições recentes do Estado ás igrejas por causa da lei da Separação, se alguns socialistas extremistas sentem medo de ver uma eventual vitória do czar Nicolau II como um travão à iminente implantação de um regime proletário, o que eles querem é, no primeiro caso, a redenção espiritual e no segundo o tanto pior melhor em prol da Revolução.
Expulsar o inimigo para lá do território ocupado passa a ser um imperativo, que não permite qualquer discussão. Por não poder contrariar essa tendência Lenine propõe a transformação da guerra europeia em guerra civil.
Cada um tem a consciência de combater pela pátria e pela sua casa. A ideia de inimigo hereditário volta a estar na moda para todos os povos. Os franceses olham para a «linha azul» dos Vosges e para a Alsácia e a Lorena perdidas em 1870. Os alemães pretendem impor  a hegemonia da antiga Prússia aos franceses e aos russos. A leste, estes últimos evocam as grandes epopeias do passado, quando tinham derrotado os cavaleiros teutónicos e os tártaros. Os italianos, que depressa abandonam a neutralidade, evocam o ocupante austríaco, que tinham expulso no século XIX e os turcos não esqueciam que os eslavos tinham sido sempre para eles uma ameaça.
Em todos os países os professores primários tinham disseminado essas “verdades”, que alimentam o espírito patriótico. Chegados a adultos os jovens leem os jornais, que lhes acenam com o isolamento  a que o país está sujeito, rodeado de inimigos roídos de inveja pela sua prosperidade, segurança e modos de vida.
O ensino da História aliado às campanhas da imprensa e às manifestações desportivas estimularam o patriotismo, depressa transformado em febre nacionalista.


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