terça-feira, 15 de abril de 2014

IDEIAS: A Europa deixou de inovar? (III)

Muitas descobertas resultam do mais improvável acaso: encontra-se o que não se esperava ou então algo de muito diferente em relação ao que se procurava.
A América, por exemplo, terá sido encontrada por Cristóvão Colombo, quando ele ia à procura das Índias Orientais. Ou Pompeia, encontrada muitos séculos depois de ter ficado soterrada, quando se faziam trabalhos de regularização do curso de um rio.
Em medicina, por exemplo, deve-se a invenção do estetoscópio a uma manifestação de pudor do seu criador. Até ao século XIX, os médicos auscultavam as pacientes encostando o ouvido ao seu peito mas, em 1816, René Laennec sentia-se suficientemente incomodado com esse “exercício” junto do belo sexo para se inspirar numa brincadeira infantil e chegar à solução do seu problema: enrolando um jornal em forma de tubo, que encostava ao peito da paciente, conseguia ouvir eficientemente os batimentos do coração.
Quanto aos antibióticos devemo-los à distração de um investigador britânico especializado em bactérias:  Alexander Fleming foi para férias, esquecendo-se de uma das suas preparações junto à janela do seu laboratório, e deu no regresso com um cogumelo, que se desenvolvera a partir da proliferação das bactérias por ele ali deixadas. Descobriu assim o que necessitava para produzir a penicilina.
Foi também pelo acaso suscitado por um passeio no campo, que o fez regressar a casa com algumas plantas coladas ao veludo das suas calças, que o engenheiro suíço Georges de Mestral teve a ideia de inventar o velcro.
Mas, às vezes sucede que uma invenção não é levada suficientemente a sério e acaba por ser rentabilizada por quem viu nela o potencial, que quem a criou não conseguiu vislumbrar.
Foi o que sucedeu com o efeito 3D, desenvolvido e patenteado na empresa francesa Alcatel por um dos seus engenheiros. No entanto o desinteresse por tal inovação foi tal que os franceses deixaram a patente caducar, altura em que os norte-americanos se apressaram a tomá-la por sua e a iniciarem um negócio de milhões de dólares.
Denis Cavallucci, do INSA de Estrasburgo, reconhece que este exemplo demonstra que os europeus dão a prioridade à invenção de algo sem se preocuparem imediatamente com a sua exploração comercial, enquanto os americanos fazem o percurso inverso: partem da perspetiva de negócio para o desenvolvimento de uma ideia, não hesitando em investir recursos financeiros, humanos e organizacionais para a transformarem num produto rentável.
Ben Scott considera que, embora o tenham tentado, nenhum país europeu conseguiu reproduzir o modelo de Sillicon Valley por falta de uma cultura de rede de indivíduos e de organizações capazes de conjugarem esforços e conhecimentos para pegarem numa ideia, a analisarem em conjunto e conseguirem-na frutificar.
Um investidor terá contado a esse antigo colaborador de Hillary Clinton que, quando uma ideia de negócio lhe era proposta, costumava organizar um pequeno-almoço com vários amigos e colaboradores, que a escalpelizavam por todos os lados possíveis de abordagem. Resultado: no final da discussão, se se lhe reconhecia potencial, já saía do grupo o conjunto de investidores capazes de garantirem as verbas necessárias para a levarem a peito.


Sem comentários:

Enviar um comentário