segunda-feira, 21 de abril de 2014

POLÍTICA: Francisco Assis e a oportunidade para mudar o estado das coisas

Sobre Francisco Assis tenho tido um comportamento mais ou menos bipolar: em 2011 apoiei-o para secretário-geral do Partido Socialista, porque me parecia opção bem mais judiciosa do que a personificada por António José Seguro. Mas, depois, quando o ouvi emitir opiniões muito às avessas do meu pensamento sobre o que deverá ser o papel transformador dos partidos socialistas e sociais-democratas nesta Europa desajustada dos processos de globalização, fiquei atónito em como tinha podido dar o meu voto a tais pontos de vista.
Mais recentemente voltei a lê-lo e a ouvi-lo com renovado interesse porque tem exprimido menos preferências com coligações à direita e abertura a que elas se venham a fazer à esquerda.
Em suma, hoje agrada-me vê-lo a liderar a lista socialista ao Parlamento Europeu, bem como os sete nomes que se lhe seguem, muito embora entenda injusta a saída de Capoulas Santos cujo trabalho nas questões agrícolas mereceria continuidade.
Vale a pena por isso debruçarmo-nos sobre a entrevista por ele dada à edição do «Público» neste domingo de Páscoa e em que clarifica algumas das suas principais posições sobre a atualidade política:
1. Sobre a importância destas eleições europeias
São as eleições mais importantes que alguma vez se realizaram para o Parlamento Europeu (PE) e espero que delas resulte esse sobressalto democrático. Porquê? Porque me parece que temos que cortar com uma ideia que tem vindo a prevalecer de uma Europa, sobretudo, dividida em função em fatores de natureza histórico-geográfica entre um Norte próspero aberto às globalização e com capacidade para ganhar com a globalização e um Sul pobre, periférico, subalterno. (…)
Estas eleições valem por elas próprias e podem, de facto, iniciar uma nova fase na vida política europeia: se, porventura, houver, como desejo, uma mudança de maioria política no PE, se o PSE passar a ser o partido maioritário, se daí resultar a indicação de Martin Schulz para a presidência da Comissão Europeia, isso, só por si, vai introduzir grandes mudanças políticas na Europa. Vamos ter uma outra abordagem das questões europeias, e isso é bom para a Europa e até é bom para o mundo, porque a Europa pode ter um papel de regulação em termos mundiais se for mais exigente. (…)
2. O que pode mudar depois destas eleições
A primeira grande mudança [a promover na Europa] é de opções políticas. Qual é essa mudança de opção política? É a rejeição deste modelo de uma Europa a duas velocidades.
Há hoje na Europa um problema sério, uma divisão entre países que estão a ganhar com a globalização e países que estão a enfrentar grandes dificuldades com o processo da globalização; países que estão a ganhar com o euro forte e países que estão a atravessar grandes dificuldades com o euro forte; países que estão a ganhar porque são credores e países que estão a perder muito porque são devedores. É preciso construir uma política que ponha fim a essa dicotomia.(…)
3. O que tem de mudar nas políticas europeias
Temos de ter não apenas uma política preocupada com a consolidação orçamental, mas uma política que promova o crescimento da economia europeia. E para promover o crescimento da economia europeia há várias mudanças.
Em primeiro lugar, os países que têm excedentes comerciais têm que ter uma outra atitude em relação aos seus próprios mercados internos, de maneira a não potenciarem, a não aumentarem ainda a austeridade que se está a verificar nos outros países.
Em segundo lugar, o Banco Central Europeu tem de ter em atenção não apenas a questão do controlo da inflação, mas tem que ter preocupações em matéria de crescimento da economia. Isto coloca-se hoje de uma maneira muito evidente quando na Europa há um risco deflacionista, ou, pelo menos, um risco de manutenção de uma taxa de inflação muito baixa, que prejudica globalmente o espaço europeu e prejudica particularmente os países mais devedores.
Precisamos de ter uma política monetária diferente, menos rígida, menos ortodoxa em matéria de controlo da inflação, mas mais atenção à necessidade de articular esse controlo da inflação, que é necessário, com a perspetiva de crescimento da economia.
Em relação à dívida dos vários países, temos uma posição muito clara: nós continuamos a ter um problema sério de endividamento de vários países, de sustentabilidade da dívida pública. Não somos a favor de nenhum pedido unilateral de perdão da dívida, mas entendemos que haja um esforço conjunto europeu no âmbito de um problema comum para estabilizar a situação da dívida. (…) Há várias formas de fazer isso. Seja através de uma mutualização parcial da dívida europeia, seja pelo sistema dos eurobonds, seja pelo sistema de mutualização das dívidas a mais no curto prazo. (…)
4. Sobre o governo de passos coelho
É um Governo extremista do ponto de vista ideológico. É um dos governos mais extremistas da Europa, assente numa linha de orientação que desvaloriza completamente o Estado, em particular, nas áreas sociais. É um Governo de uma direita muito radical que julguei que já não existia. E é um Governo muito incompetente que gera angústia e ansiedade no país. Gente extremista, impreparada e com pouca formação e densidade política. (…)


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