quinta-feira, 22 de maio de 2014

FILME:«Alien, o 8º Passageiro» de Ridley Scott

Antigo aluno do Royal College of Art de Londres, Ridley Scott começou por trabalhar para a BBC como cenógrafo e, depois, a meio dos anos sessenta, como realizador. Prosseguiu a carreira a dirigir anúncios publicitários até conseguir rodar o seu primeiro filme, “O Duelo” (1977).
Desde então muitas das suas obras tornaram-se objetos de culto. Em todas as latitudes podem encontrar-se adolescentes capazes de recitarem como se se tratasse de um poema as palavras finais do androide de “Blade Runner” (1982) - «I’ve seen things you people wouldn’t believe» - ou escutam continuamente o tema musical do “Gladiador” (2000).
Mas, de todos os seus filmes, foi “Alien”, aquele que maior impacto causou na indústria cinematográfica, suscitando três sequelas e uma prequela, sem falar dos jogos de vídeo.
O filme evoca duas outras obras de ficção científica: “2001, Odisseia no Espaço” (Stanley Kubrick, 1968) por ter uma tripulação hbernada e o diálogo com um computador central , e “Silent Running” (Douglas Trumbull, 1972) pelo reduzido número de pessoas em conflito a trabalharem por conta de interesses, que os ultrapassam nos longos corredores de uma gigantesca nava espacial. Mas podemos igualmente citar “Night of the Living Dead” (George Romero, 1968) por escolher a situação narrativa de um espaço fechado em que só se pode retardar o desiderato da luta inglória contra um inimigo indestrutível.
Mas sintetizemos a história: quando já estava de regresso à Terra, a nave de reboque espacial Nostromo vê interrompida a sua viagem porque foi assinalado um sinal de vida extraterrestre num planeta próximo, pelo que o computador central desperta os sete tripulantes em hibernação.
Direcionada para o sítio donde esse sinal é emitido, a nave aterra num planeta varrido por ventos fortíssimos.
Não tarda que a expedição se converta num drama quando uma espécie de polvo se vai colar ao capacete de Kane, de tal forma que  não se vê forma de o conseguir descolar sem o matar. O grupo, que saíra da Nostromo para inspecionar o local suspeito, regressa à nave e Kane parece refeito da emoção, mas não tarda que ele morra de forma terrível quando, horas mais tarde, um monstro irrompa da sua barriga à hora da refeição.
Está instalado o caos a bordo tanto mais que o computador central parece pouco orientado para a prioridade ao fator humano.
Que fazer? A criatura cresce a uma velocidade surpreendente e vai exterminando, um a um, os seis sobreviventes.
“Alien” equilibra competências oriundas de horizontes estéticos muito diferentes. O pós-moderno está presente através das formas, das texturas e dos sons. O desenhador de banda desenhada Jean Giraud e o ilustrador de ficção científica Chris Foss responsabilizaram-se pelo aspeto visual da nave, enquanto o pintor suíço H.R. Giger (recentemente desaparecido) criou o monstro e o seu enquadramento. E mesmo se «no espaço ninguém vos ouve a gritar» - como anunciava o slogan publicitário do filme - a banda sonora remete para o estilo de música ambiental. Também pós-modernos os projetores azulados e o jogo de imagens de baixa resolução, que se vislumbram nos ecrãs sem que nada possa ser feito. Dessa forma um dos tripulantes mortos pelo monstro não é ,ais do que um ponto luminoso num quadrante de um monitor, tal qual sucede nas guerras «técnicas» onde a realidade do sofrimento sai fora do campo visual.
A um estilo mais clássico o filme resgata uma propensão para efeitos de prenúncio: quando surge pela primeira vez no ecrã Kane massaja a garganta onde o «polvo» o atacará daí a algumas horas; um estranho movimento de câmara captado do solo da enfermaria avisa-nos da fuga do monstro; os lentos travellings de recuo nos corredores anunciam-nos de que alguma coisa está lá…
Igualmente nada de mais clássico do que a forma como se mostra um alarme falso: afinal era só um gato!
Ainda assim seria injusto ver no filme um mero exercício de estilo, já que se transforma num requisitório contra a obsessão das multinacionais pelo lucro: de que vale a vida de alguns seres humanos se uma nova forma de vida pode significar a oportunidade de um novo mercado?
O nome da nave é, aliás, o de um navio num romance de Joseph Conrad, onde se conta como a avidez pela posse de um tesouro leva um grupo de marinheiros à autodestruição.
“Alien”  também constitui objeto de culto para os especialistas anglo-saxónicos dos «gender studies», essa disciplina em que se procura examinar os textos culturais em função dos papéis de género, que lhes estão associados. Ora, ao contrário do que normalmente sucede nos filmes comerciais, aqui o sexo dos personagens nada influencia a evolução da história...



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