sexta-feira, 15 de agosto de 2014

E não é que há tiros que fazem ricochete!

Vozes avisadas já relacionaram o facto de António José Seguro ter apresentado a sua “moção” às Primárias no mesmo dia em que o Tribunal Constitucional dominaria as notícias por causa das suas decisões sobre os salários dos funcionários públicos ou o corte nas pensões.
Ciente da pobreza confrangedora do seu documento, Seguro fez-lhe uma apresentação enfatuada para justificar o «boneco para a televisão», mas terá desejado que o episódio fosse rapidamente esquecido em proveito do interesse mediático pelas decisões dos juízes do Palácio Ratton.
É que, na antevéspera, ele pretendera amesquinhar o documento de António Costa como se ele não fosse aquilo que é: um diagnóstico lúcido das causas, que nos trouxeram até esta crise e da receita errada representada pela austeridade, seguida de um conjunto de proposta estratégicas para as resolver, bem como dos recursos a investir para alcançarmos o patamar de um país mais moderno, desenvolvido e igualitário.
No desdém com que procurou desvalorizar as propostas da moção «Mobilizar Portugal» Seguro apenas quis ouvir as supostas críticas, que António Costa lhe endossara, quando lembrara o óbvio facto de ninguém se poder arrogar da condição de dono do Partido ou de não existir correlação entre quaisquer oitenta medidas avulsas e uma estratégia com cabeça, corpo e membros para responder aos impasses em que a sociedade portuguesa permanece paralisada neste ciclo austeritário.
Já diversos investigadores lançaram a tese segundo a qual alguns dos mais conhecidos vultos da História da Humanidade tiveram sintomas de patologias graves, que só a psiquiatria poderia minorar como forma de evitar as catástrofes para que arrastaram os seus povos. O caso de António José Seguro começa a ser preocupante, porque vai-se dissociando cada vez mais da aparência de uma incompetência gritante em ser eficaz na liderança do maior Partido português, e começa a ter contornos psicológicos particularmente inquietantes.
Senão vejamos a forma como ele reagiu, de facto, a essa apresentação de António Costa: em vez de discutir o conteúdo das trinta páginas da moção, apenas “ouviu” as que entendeu como críticas a seu respeito.

Agora, com a apresentação das paupérrimas sete páginas da sua “moção” (incluindo a capa e o banner inicial) só falou do seu umbigo: “eu”, mais “eu”, e ainda “eu”.
No agravamento desses sintomas, Seguro já nem sequer se considera dono do Partido Socialista: já se vê como dono do mundo, quiçá do Universo, sem se aperceber que, a ser levado a sério, onde verdadeiramente está de peito feito é na proa de um “Titanic”.
E o que aparentemente disse de mais substantivo (e é preciso boa vontade para assim o entender!) deixou atónitos muitos quantos o ouviram, porque:
· quer uma maioria absoluta, que nenhuma sondagem real (o resultado das europeias), nem virtual, lhe garantem nem sequer nos seus sonhos mais cor-de-rosa;
· só aceita formar um governo maioritário, mas rejeita coligações com o PSD, o CDS, o Bloco de Esquerda ou o PCP, porque nem aceita parceiros apostados em dar cabo do que resta do Estado Social (e os partidos da direita deixariam de o ser se se desviassem dessa sua matriz ideológica!), nem os que rejeitam a União Europeia e o euro (caso dos partidos à esquerda do PS). Assim, quem lhe restaria para essa coligação? O Marinho Pinho, a Ana Drago e o Rui Tavares?
· contradizendo-se com o que dissera atrás, já aceitará coligar-se com qualquer um ou mais dos parceiros anteriormente enjeitados, mediante um referendo aos militantes socialistas. Ora o que pensará Seguro que seja um líder? Um político que segue as orientações, que lhe ditem maiorias conjunturais dentro do Partido ou alguém com ideias claras sobre qual deve ser o caminho e mobiliza os militantes e os demais cidadãos para nele o seguirem?
É mais que certo que através da manhosa manobra de convocar as Primárias e não o Congresso, Seguro quis desgastar António Costa, limitando o efeito do entusiasmo suscitado pelo anúncio da sua disponibilidade para ser a solução para a liderança do Partido. Mas como o tiro tem frequentemente ricochete é ele quem mais se vai revelando fraco e perturbado à medida que as semanas vão passando...


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