sexta-feira, 19 de setembro de 2014

António Costa e os exemplos da Antiga Grécia

Só daqui a quase um mês poderemos ver em Lisboa a nova peça da Cornucópia, que acaba de ser estreada no Teatro de São João, no Porto. Mas «Pílades» de Pier Paolo Pasolini promete ser um espetáculo tão exigente nas suas três horas e meia de duração, quanto oportuno para este Portugal entroikado. Porque, se ganhar as Primárias do Partido Socialista, como esperamos que venha a suceder entretanto, António Costa irá ver-se nas mesmas dificuldades do personagem principal da peça, Orestes, decidido a implementar a democracia no seu reino, mesmo contando com a oposição dos defensores das tradições anteriores, e de quem o julga demasiado comedido para com esses representantes de um passado por ultrapassar.
A situação não é nova e esteve particularmente presente no pós-25 de abril: entre os que pretendiam uma democracia consolidada e os outros partidos ou movimentos da esquerda apostados em chegar mais depressa a formas mais “puras” de socialismo, o embate foi muitas vezes complicado com o PS a aliar-se frequentemente à direita para contrariar as tentações insurrecionais do PCP ou de outras forças mais radicais.
Na altura viu-se o resultado: quem ganhou com essa impossibilidade de concertação de objetivos entre toda a esquerda foi a direita que, através de sá carneiro, conseguiu a primeira maioria absoluta capaz de pôr em causa muitos dos avanços sociais conquistados anteriormente.
Basta ver a prática dessa mesma extrema-esquerda em relação aos governos de José Sócrates ou o que vai adiantando relativamente às propostas de António Costa para temer que nada tenham, entretanto, aprendido.
Por isso mesmo a peça de Pasolini representada pelo elenco da Cornucópia não poderia vir em melhor altura: porque, qual Orestes, António Costa tem a tarefa gigantesca de romper com a tradição austeritária destes três anos e acertar acordos à  esquerda, que torne viável esse objetivo!


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