quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Hoje decidi elogiar António José Seguro!

Estava para nada dizer sobre a renúncia de António José Seguro ao mandato de deputado, porque, após a derrota de 28 de setembro, ele já se tornou tão irrelevante, que continuar a dizer mal equivaleria ao trivial «bater em mortos» por muito que Francisco Assis desminta essa possibilidade.
No entanto, ao longo de todo o dia, o assunto mereceu tanto debate no facebook, que conjeturei até que ponto poderia eximir-me de exprimir aqui a minha opinião. E, por isso mesmo, decidi dizer bem de Seguro.
Para alguns esta atitude pode surpreender ou não tivesse este blogue passado semanas a criticar intensamente tudo quanto considerava criticável no ex-secretário-geral. E também aqui exprimi a enorme alegria, que a vitória de António Costa me proporcionou!
Mas dois motivos me levam a louvar António José Seguro: a decisão de promover a realização de Primárias e a de hoje.
Quanto à primeira, eu comecei logo por ser contra. Pensava ser atributo dos militantes com quotas em dia a escolha do seu líder e via nessa proposta uma forma de Seguro ganhar tempo e desgastar o efeito de novidade inerente à manifestação de disponibilidade de Costa para lhe disputar a liderança.
Às vezes cumpre-se o provérbio, que diz deus escrever direito por linhas tortas e foi este o caso. Aquela que tinha sido uma tática de sobrevivência de Seguro revelou-se algo que a transcendeu e conseguiu dois efeitos maiores: galvanizar milhares de pessoas para saírem da sua indolência e disporem-se a participar num ato político - desmentindo assim a tese do afastamento dos eleitores do exercício da cidadania - e conferiu a António Costa uma bela oportunidade para alavancar o seu prestígio e mobilizar os militantes e os simpatizantes socialistas para a grande vitória nas legislativas de 2015.
A decisão de hoje tem características semelhantes. Porventura terá ganho fundamento em sentimentos pouco nobres e que terão muito a ver com o ego ferido do político derrotado, mas também contribui para abrir ainda mais o Partido para o seu novo ciclo.
Tínhamos constatado que, ao longo dos últimos três anos, mas sobretudo nestes quatro meses entre as europeias de 25 de maio e as Primárias de 28 de setembro, o PS assemelhou-se amiúde àquele célebre personagem literário criado por Robert Louis Stevenson, ora médico altruísta, ora monstro.
Em muitas ocasiões o Partido tomava as posições corretas contra o pior dos governos que os portugueses conheceram depois do 25 de abril. Olhava-se então para ele e tinha todas as características de um Dr. Jekyll.
O pior era quando deixava vir ao de cima as suas piores características e revelava-se um verdadeiro Mr. Hyde. Nessas alturas dava para nos sentirmos envergonhados por sermos socialistas e não vermos o Partido agir como tal. Ora, neste último período essa malignidade andou à solta nos que insultaram quem deles discordava e difamavam a personalidade de António Costa.
Ler o que semanas a fio alguns protagonizaram com a sua própria identidade ou escondendo-se por trás de pseudónimos, deu para perceber que uma doença grave se apossara do PS. E que urgia curá-la.
A voluntária saída de cena de António José Seguro merece, pois, ser elogiada, porque, por linhas tortas, a realidade volta a retilinizar-se para o que mais importa: a consolidação de uma unidade forte e coesa em torno do objetivo prioritário de derrotar a Direita.
Tivesse decidido regressar á sexta fila do Parlamento e alguns dos que o apoiaram e ainda lambem as feridas sem terem aprendido as lições da derrota, sonhariam com retrocessos no tempo. Agora, pelo contrário órfãos das suas escolhas, serão casos cada vez mais isolados, porque a maioria recuperará a lucidez quanto ao que mais importa alcançar no futuro próximo.
Pode-se, pois, considerar que, mesmo involuntariamente, António José Seguro tomou duas sábias decisões merecedoras do nosso devido apreço. Por isso mesmo desejamos que conheça felicidade nesta nova fase que se abre na sua vida. Parafraseando Ferro Rodrigues...

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