sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Os acordos no topo, mas a necessária separação do trigo do joio na base!

É um clássico: depois da vitória de domingo nas Primárias, há quem apoie e quem execre o acordo estabelecido entre os vencedores e vencidos!
Uns reagem com a razão e veem na facilidade com que se substituiu a direção do grupo parlamentar e se acordou numa lista única para o Congresso a concretização do que António Costa prometera durante as ações da campanha: que, a partir do dia 29, as divergências diluir-se-iam e seria o partido no seu todo, que se iria empenhar com determinação na derrota da direita ainda no poder.
Mas há sempre quem argumente com a ditado de «quem não sente não é filho de boa gente!» e não esqueça as infames atitudes de uns quantos, que se apressaram a apodar de traidores quem apenas pretendia ver o Partido de um indispensável novo fôlego!.
Algo há de indubitável: a magnanimidade com que António Costa sempre prometeu atuar no dia seguinte às Primárias, não seria decerto a mesma se tivesse sido António José Seguro a ganhar. Tudo no seu discurso apontava para uma espécie de caça às bruxas como a concretizada pelos seus principais apoiantes em Coimbra!
Mas António Costa tem uma tarimba e uma sagacidade políticas, que justifica a confiança redobrada em como cumprirá com sucesso as várias fases do projeto que teve agora a primeira batalha. A escolha de Ferro Rodrigues para liderar os deputados socialistas na Assembleia confirmou essas qualidades: quando enfrentar quinzenalmente o ainda primeiro-ministro, os portugueses verão um tecnotitubeante adolescente retardado a medir-se com um respeitado senador da República. A degenerescência do governo acelerar-se-á em cada uma dessas ocasiões, com as circunstâncias a convergirem para um final de mandato a lembrar um navio a meter água por todos os lados.
Onde as Primárias deverão ter impacto mais contundente será a nível das secções e das concelhias, e aí sim será a altura para operar uma separação eficiente entre o trigo e o joio. Porque o segurismo, no que teve de pior, não aconteceu por acaso na vida do maior Partido português, decorreu de, durante anos a fio, terem passado a militar nele quem manifestava a maior indiferença pelos valores ideológicos de que deveria ser cultor e apenas tinha em vista propósitos indisfarçavelmente arrivistas. Foi à pala dessa “cultura” que se alteraram estatutos, se expulsaram militantes devotados e se tomou de assalto um aparelho, que se pretendia vocacionado para perenizar o triunfo definitivo da mediocridade.,
Se olharmos para quem integrou o exército dos seguristas a nível concelhio ou distrital - alguns dos quais provinham de candidaturas fracassadas nas últimas autárquicas! - encontramos uns quantos “doutores” sem emprego apostados em imitarem o seu líder nessa «capacidade» para outra coisa não fazerem na vida, que não fosse um qualquer lugar decorrente dessa ligação partidária.
Quer isto dizer que, se a hora é de união a nível do topo do Partido, deveremos ser exigentes nas secções onde militamos e eleger quem tem mais vida para além da política - capaz de, por isso mesmo, ter uma visão mais abrangente e qualificada das posições a tomar. Ou seja, que não veja nele a mera oportunidade para garantir um emprego.
Porque ser socialista nada tem a ver com a focalização nos umbigos: significa defender valores e não interesses!
Ora é a própria ciência dos fractais, que nos demonstra a reprodução dos bons exemplos se deles conseguirmos fazer padrão a partir de uma dimensão estrutural de base. É que, a par de uns quantos caciques locais inapelavelmente derrotados no domingo passado, o Partido também conta com toda uma geração de jovens militantes com talento e capacidade para tomarem o testemunho dos mais velhos - os que agora pugnaram pela defesa do património histórico do Partido - e estão em condições de o tornarem num verdadeiro caso de sucesso político para os anos vindouros! Para que os portugueses tenham direito a um futuro digno e carregado de esperança!

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