terça-feira, 7 de outubro de 2014

Os Sísifos dos nossos dias

Em 2009 a repórter Barbara Lohr conheceu Mouna, uma adolescente palestiniana que perdera uma perna na guerra então desencadeada pelo exército israelita contra o território palestiniano.
Na altura organizara o seu tratamento em França para que, mediante a inserção de uma prótese adequada à especificidade da sua amputação, ela pudesse recuperar mobilidade.
Cinco anos depois, e após mais uma sucessão de bombardeamentos mortíferos a Gaza, Barbara procurou da jovem e foi encontra-la viva, mas já sem o uso da prótese, entretanto danificada.
O retrato, que nos dá de Mouna é terrível e justifica a indignação, que o massacre israelita suscitou. Porque, em apenas seis anos, a rapariga já passou por três guerras, podendo-se dizer que a vida não é mais do que uma curta trégua entre a sucessão de conflitos. É como se a população a que ela pertence sofresse o destino de Sísifo, reconstruindo tudo quanto foi destruído para voltar a ver tudo reduzido a um amontoado de escombros.
Por isso mesmo a imagem mais terrível da reportagem agora emitida pelo canal ARTE é a da câmara a afastar-se com Mouna agarrada às suas muletas no meio de uma cratera deixada por uma das muitas bombas ali despejadas pelos agressores. Durante muito tempo essa imagem perseguir-me-á como sinónimo da mais atormentada desolação...

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