segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Preconceitos, deslealdades e teimosias

(1) Os anos foram-me fazendo evoluir do agnosticismo da juventude para um inabalável ateísmo na idade adulta. O que não me impede de acompanhar com muito interesse as questões religiosas, muito particularmente as relacionadas com a Igreja Católica.
O Sínodo sobre a Família, agora concluído no Vaticano, prometia trazer algumas novidades relativamente às uniões de facto, aos divórcios e à homossexualidade, espelhando alguns sinais de modernidade deixados aqui e além pelo Papa Francisco.
Confirmou-se, porém, a dificuldade com que a Igreja Católica aceita as mudanças trazidas pelo conhecimento e pela evolução dos valores sociais. Por isso a maioria dos participantes optaram por votar pela preservação das posições mais tradicionais. Como criticou o Papa no seu discurso final há ainda quem aposte na leitura literal dos textos bíblicos em vez dos significados neles sugeridos por Deus. É essa a regra dos dogmáticos, que alimentam os intolerantes fundamentalismos.
Mas, como diria Galileu, a Igreja Católica demonstrou que se está a mover, mesmo quando aparenta estar parada…

(2) Interessante o texto assinado por Manuel Carvalho (MC) na edição de ontem do «Público» relativamente ao orçamento de estado, um documento que, em seu entender, corresponde a “um plano de dissimulação onde tudo se tenta, até a ideia de que nos salvamos de mais impostos.
Pondo em causa quem considera paulo portas o grande perdedor de toda a negociação verificada dentro do elenco ministerial, constata MC: “Ao contrário do que muitos observadores disseram, Portas não perdeu a batalha pela “moderação fiscal”. Porque se tinha posto num papel em que era impossível perder: colocara-se a correr na “pista de dentro”, como, citando-o, avisava o Expresso da semana passada e, fosse qual fosse o resultado, ganharia sempre.
Havendo diminuição do IRS, ele seria o autor; não havendo, a culpa era de Passos, esse inflexível.”
É inegável que portas continua a ser igual a si mesmo na forma como, malevolamente, se comporta na política. O seu problema será, porventura, o de não lhe ser já tão fácil enganar tantos papalvos como antes acontecia…

(3) De entre os políticos, que estão no poder em países europeus (mesmo que neste caso também asiático), o presidente turco Erdogan é dos mais detestáveis. Enquanto manteve a esperança em conseguir a entrada na União Europeia ainda ostentou uma máscara democrática, que há muito tem deixado cair. O seu regime, embora apoiado por uma elite, que tem beneficiado de uma conjuntura económica expansionista, e pelos setores culturalmente mais retrógrados das zonas rurais, tem prendido, agredido, quiçá assassinado quem mais ativamente o combate.
Eleição após eleição ele tem mantido inalterável o seu poder, demonstrando a lógica há muito constatável em como democracia não significa só existirem eleições relativamente livres.
No entanto, numa das questões, que mais o poderiam fortalecer, Erdogan estará a abrir uma caixa de Pandora, passível de o derrubar: a questão curda!
Contrariando Washington, que o pretenderia ver associado à coligação formada para combater os jihadistas da Síria e do Iraque, ele tem-se escusado porque intenta prevalecer a sua lógica de ter Bashar al Assad como inimigo figadal mais perigoso do que o autodesignado «Estado Islâmico», tanto mais que de permeio surge a possibilidade crescente do reconhecimento internacional de um Estado curdo.
Poderemos estar perante um daqueles exemplos em que um ditador aposta na sua visão estreita da realidade e acaba por nela se perder!

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