terça-feira, 28 de outubro de 2014

Uma pesada herança de quem sente uma angústia miudinha

Na coluna semanal, que assina às segundas-feiras no «Público», o antigo ministro Correia de Campos reconhece que, em circunstâncias normais, um governo em guerra aberta com jornalistas e comentadores e capaz de inventar conspirações para explicar o desastre em que deixou o sistema judicial, estaria de portas escancaradas para sair rapidamente de cena. No entanto, o apego ao poder é tal que só circunstâncias extraordinárias a tal o conduzirão antes da data prevista pela Lei Eleitoral.
Mas o comentador alerta para a pesadíssima herança deixada por passos & Cª: “O governo não fez reformas porque reformas levam tempo, exigem saber, experiência, bom senso e energias. Com o país sedento de investimento, não consegue aproveitar os fundos de Bruxelas, dinheiros que se perderão na competição entre compromissos liquidados e não pagos. O governo teve tempo que desperdiçou, tinha conhecimento que desprezou ou maltratou, tinha energias sempre disponíveis, se bem conduzidas. Preferiu a via fácil e rápida dos cortes brutos na despesa. Preferiu aparecer como “quick winner”, em vez de paciente reformador. Quando partir, deixará quase tudo pior. Tudo teve e quase tudo deitou a perder. Terá o destino que escolheu.”
Mas demorará a reparar os danos, que deixará a quem lhe sucederá! Por isso mesmo António Costa mostrava particular firmeza, quando previa nos debates das Primárias, que o mais difícil estará por fazer, quando o Partido Socialista for governo…

O filósofo José Gil foi em tempos um crítico contundente da governação de José Sócrates. Mas, a exemplo de muitos outros comentadores da política portuguesa depressa se desenganou da «mudança» prometida por passos coelho, que a tudo agravou, exceto para os mais ricos dos portugueses,  sempre capazes de lucrarem com as conjunturas de crise.

Agora as suas expectativas viraram-se para o PS saído das primárias que derrotaram o anterior secretário-geral: “O seu desaparecimento da cena política destabilizou profundamente a relação de forças equilibrada, confortável e mesmo promissora para o PSD. O PS constituía uma espécie de complemento necessário à estabilidade governativa da coligação. A saída de Seguro abriu um novo espaço de esperança no País, que ultrapassa em muito os militantes e simpatizantes do PS. Não é um efeito de ‘messianismo’ que se diz acompanhar a nova liderança de António Costa, é antes o desbloquear de um espaço congelado de expetativas indeterminadas. Sem que nos tenhamos apercebido, um grande vento invisível passou, limpou e abriu o espaço político. Abalou o PSD e deixou-o com uma angústia miudinha”. (Visão) 

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