sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Quarenta e cinco anos depois continuamos de nariz apontado para cima!

Uma das memórias mais vivas da minha juventude foi a da transmissão dos primeiros passos de Armstrong e de Aldrin na Lua. Fizera treze anos na semana anterior e acreditava piamente que, quase meio século depois, andaria com toda a «tranquilidade» a viajar entre Marte e Júpiter, porque era isso que previam muitos dos livros e artigos de revista lidos então.
Tinha sido um pequeno passo para o homem e esperava-se que significaria um enorme passo para a Humanidade. Como não acreditar nisso quando, um ano antes, nem sequer fora preciso que o ditador desse um passo para cair da abençoada cadeira?
Vivíamos nas ilusões da primavera marcelista, com as pedras da calçada de Paris a esconderem possíveis praias e, desmentindo Nizan, que ninguém nos quisesse convencer em como não estaríamos prestes a viver os mais belos anos das nossas vidas!
Havia o “pequeno” detalhe da Guerra Colonial, donde iam chegando notícias de mortos e de primos mais ou menos azamboados com quanto por lá tinham visto. Mas havia a esperança de vê-la acabada ainda antes de chegado o momento de para lá ser enviado. E, acaso isso não sucedesse, já eram por demais conhecidos as soluções para as evitar - a Marinha Mercante onde efetivamente fui parar ou o salto para as acolhedoras Suécia ou Holanda!
Muito embora um documentário engraçadíssimo do William Karel («Operação Lua», 2002) - quisesse brincar com a possibilidade de tudo se ter tratado de uma notável mistificação, vivi a experiência desse 20 de julho de 1969 como uma prodigiosa aventura científica, porventura a maior alguma vez vista em direto.
Lembrei-me de tudo isto a propósito da missão da sonda Rosetta, que deveria ter culminado com a aterragem do robot Philae num cometa a movimentar-se entre os dois planetas, que há quarenta e cinco anos, eu julgava já andar a visitar por esta altura.
Mesmo que os objetivos fundamentais da missão fiquem comprometidos pela impossibilidade da fixação do robot à superfície do cometa, já é um maravilhoso feito esta capacidade de existirem cientistas capazes de terem feito chegar  uma sonda tão pequena a tão longa distância e de conseguirem aterrar um dispositivo de captação de imagens e de dados científicos num cometa em deslocação a enorme velocidade e com uma gravidade cem mil vezes menor do que a nossa.
Se a Astronáutica não evoluiu tão rapidamente quanto o saudoso Eurico da Fonseca nos queria na altura fazer crer, ela não deixa de prognosticar a forte probabilidade de, num passado não muito distante, os nossos genes andarem a viajar nos corpos dos nossos descendentes por zonas do Universo, que ainda nos são tão inacessíveis.

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