sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Primeiro a tragédia e depois a farsa, ou o seu contrário?

Karl Marx disse um dia que certos acontecimentos históricos costumam acontecer  de forma repetida, a  primeira vez na forma de tragédia, a segunda na de farsa.
É isso mesmo que nicolas sarkozy está disposto a demonstrar com a tentativa de regresso ao Eliseu.
Ainda com as cicatrizes abertas pela derrota a que Hollande o submeteu julgou-se capaz de garantir a vingança ao aproveitar o manifesto desfavor que as tropelias amorosas do presidente francês causaram na opinião pública.
Só que o regresso triunfal recentemente anunciado tende a converter-se num tremendo flop. Apesar de momentaneamente ungido como presidente do principal partido da direita francesa, sarkozy arrisca-se a, até 2017, ver-se substituído em eleições primárias por alain juppé. Cumpre-se, pois, a tese enunciada por Marx, já que o mandato do sr. Bruni no Eliseu foi tremendamente nefasto para os franceses, que viram agravado o seu nível de vida, para os europeus que o viram de braço dado à srª merkel para  impor a política de austeridade ainda vigente e  para os líbios a quem, depois de dele receber avultados apoios financeiros para a campanha eleitoral, tratou de derrubar o presidente e assegurar o caos que ali se conhece. Essa tragédia está pois a converter-se em farsa.
No entanto, transpondo a mesma tese para Portugal vemos que o cavaquismo torna pertinente a sua inversão. Senão vejamos: os dois mandatos de cavaco silva como primeiro-ministro obedeceram a uma farsa monumental. Se o país recebeu rios de dinheiro da então CEE foi graças à decisão estratégica de Mário Soares em fazer o país a ela aderir.
Sem nunca se ter notabilizado em trabalhos académicos, o medíocre cavaco silva foi transformado num “brilhante” homem político por nessa altura ter conseguido “desenvolver” o país.
Pudera! Com tanto dinheiro a rodos o que aconteceu foi o lançamento da crise estrutural em que o país se encontra, porque em vez de identificar os clusters onde se justificavam os investimentos, eles foram desbaratados no betão e nos subsídios do Fundo Social Europeu, que terão sido aproveitados por muitos, mas nada trouxeram de substantivo à qualificação dos portugueses.
Mas se esses anos foram de farsa, os dois mandatos de cavaco silva em Belém têm constituído uma autêntica tragédia: a ele se deve a forma como  o governo de José Sócrates foi derrubado para ser substituído pelo pior governo alguma vez conhecido pelos portugueses nestes quarenta anos de democracia.
Os efeitos nefastos da ação (des)governativa de passos coelho e de paulo portas levarão anos a serem reparados por terem correspondido ao de um avassalador tsunami social e económico.
Por isso mesmo, quando ouvimos os deputados da direita a criticar as opções de investimento dos governos socialistas, é difícil conter a indignação por, ao mesmo tempo, estarem a querer apagar um dos principais responsáveis pelo estado a que isto chegou. Nesse sentido cavaco, passos e portas constituem uma tríade, que devemos continuamente diabolizar, porque além de incompetentes, personificam o que de pior pode ter o exercício do poder político.

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