segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIALISTAS: Marxismo e reformismo na Europa Industrial (1ª parte)

Entre 1870 e 1914 o movimento socialista esteve em ascensão.
Na altura da guerra franco-alemã e da Comuna de Paris não existia como forma organizada em nenhum lugar, quando, pelo contrário, no início da Grande Guerra já estava amplamente representado e assumia um importante papel político.
Essa evolução teve muito a ver com o desenvolvimento da indústria e com o consequente aumento de influência do mundo laboral. Por isso fomentou a democratização das instituições, traduzidas na implementação do sufrágio universal, no desenvolvimento do ensino primário e na laicização do Estado e do espaço público.
Outra característica do movimento foi a sua dispersão e heterogeneidade doutrinária. É certo que, logo após 1870, e sobretudo a partir de 1880, o marxismo ganhou preponderância, mas o revisionismo de Bernstein, a síntese alargada de Jaurès e o pragmatismo anglo-saxónico ou escandinavo constituíram para aquele um obstáculo quase intransponível.
Estas divergências podem ser explicadas pelas especificidades de cada país, mas também pelos níveis desiguais de integração da classe operária na sociedade burguesa, pelas atitudes dos governos, pelos patamares culturais e pela variabilidade das condições económicas. Apesar do seu indesmentível prestígio a II Internacional não conseguiu mais do que constituir-se como uma «autoridade moral».
O socialismo, cuja ulterior implantação na Ásia tanto surpreenderia, começou por ser um fenómeno europeu. Nos Estados Unidos e no Canadá nunca conseguiu verdadeiramente estabelecer-se. Mas, por outro lado, inspirou as lutas anticoloniais e, durante décadas, constituiu referência obrigatória de muitos países do Terceiro Mundo.
À exceção da Alemanha, nalguns dos seus aspetos, os países da Europa Ocidental conheceram um destino comum. A unidade nacional foi assegurada pelas instituições liberais, ou seja democráticas, que venceram de uma forma que se julgou definitiva.
Do ponto de vista social, o feudalismo desaparecera décadas atrás e os interesses agrários recuaram em proveito dos ligados à indústria e ao comércio.
O movimento sindical, organizado quase em paralelo com o socialismo, desempenhou um papel cada vez mais eficaz. Assim, em 1914, o socialismo era uma das correntes políticas mais importantes de cada país, numa evolução que decorrera continuamente desde 1870.
Estas considerações deram ao socialismo da Europa ocidental uma tonalidade peculiar, feita de permanente tentação pelo «reformismo». As constantes divergências entre reformistas e revolucionários estiveram na origem de conflitos internos de alguma gravidade. Nunca o ideário marxista conseguiu prevalecer.
Tornando-se muito rapidamente num dos principais atores do Estado democrático, os partidos socialistas viram-se perante o dilema de participarem ou não em coligações dentro de governos burgueses.
Ora, se no século XIX a orientação política inclina-se para o centro-esquerda com os partidos no poder a implementarem uma política social (e anticlerical nos países «católicos»).
Deveriam os socialistas apoiá-los? Participar neles? Foi essa uma das questões mais discutidas nos congressos nacionais e internacionais então organizados.

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