segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Tomar a iniciativa, marcar a agenda

Consoante o dia da semana assim vamos tendo diversificados prazeres intelectuais ao vermos ou lermos abordagens políticas com que nos identificamos.
Em televisão temos às terças feiras Augusto Santos Silva na TVI 24, às quintas A Quadratura do Círculo e nas madrugadas de domingo O Eixo do Mal na Sic Notícias, às quartas o Sem Moderação no Canal Q. E tiraram-nos obviamente a satisfação de ouvir José Sócrates aos domingos na RTP.
Nos jornais vão surgindo colunistas particularmente interessantes como Pedro Silva Pereira no «Económico», Fernanda Câncio no «DN»  ou Pedro Adão e Silva no «Expresso», mas de todos eles o que  mais me costuma entusiasmar é António Correia de Campos no «Público» ás segundas-feiras.
No texto de hoje, depois de dar conta da sua visita a Sócrates em Évora, ele alerta para a necessidade de não deixarmos de lutar sem tréguas pela vitória nas próximas legislativas. E coloca essa luta até no plano da satisfação individual: Quem pense que basta deixar correr os nove meses que faltam envelhece mais depressa. Perdeu o combate contra si mesmo, antecipou a perda da imortalidade.
Outro aspeto interessante no seu texto tem a ver com a possível vitória do Syriza na Grécia e as vantagens, mesmo que mínimas, que dela possamos retirar: Seria pelo menos interessante que os pressupostos do erro europeu fossem questionados. Que o BCE, finalmente disposto a injetar liquidez nos mercados para tamponar o esgoto da deflação, o conseguisse. Que os credores levassem a sério os economistas gregos autodenominados de marxistas, e aceitassem negociar inovações em troca da conclusão de reformas apenas esboçadas.
No mesmo jornal o historiador Rui Tavares reporta-nos o que Mario Draghi diz numa entrevista à imprensa alemã e que estabelece diferenças significativas com o que angela merkel anda a fazer. O mais alto responsável pelo BCE prevê três fases de intervenção no futuro próximo: Primeiro: haverá  ação para combater a deflação na Europa, provavelmente comprando dívida dos estados já no mês de janeiro. Segundo: não haverá saídas da zona euro, nem depois das eleições gregas. Terceiro: um dia será necessário falar de eurobonds, mas só depois de construir confiança entre os parceiros europeus.
Deste início de semana também é notícia a iniciativa de António Costa apresentar cumprimentos a diversos partidos e organizações sindicais ou empresariais, que o associam à imagem de quem conduz os acontecimentos. Como marcelo ontem reconheceu, perante uma direita abúlica na sua falta de estratégia para conduzir os destinos dos portugueses, António Costa ocupa inteligentemente esse vazio. E não se fica por aí: na Assembleia da República o Partido Socialista prepara-se para apresentar propostas legislativas relacionadas com a violência doméstica e com as desigualdades sociais marcando a agenda!
E o primeiro daqueles temas é tanto mais relevante quanto se conhecem estatísticas em como 398 mulheres portuguesas morreram na última década, vitimadas por tal tragédia social, 42 das quais em 2014. Estamos pois numa situação de emergência, que justifica bem a importância a ela conferida na iniciativa de fazer-lhes ler os nomes por Maria do Céu Guerra no mais recente congresso socialista. 

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