quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Os generais europeus enleados nos seus labirintos

A interessante entrevista a Ricardo Pais Mamede, agora inserida no «Dinheiro Vivo», corre o risco de passar despercebida, pelo que vale a pena retornarmos a ela para contarmos com elementos de análise mais consistentes sobre a atual crise de relacionamento entre a Grécia do Syriza e as instituições europeias ainda sujeitas aos ditames da Alemanha.
Para o professor do ISCTE a dimensão da dívida soberana não é um problema a ser isolado da questão de existirem ou não condições de crescimento da economia, que facilitem ou dificultem o seu pagamento. E dá um exemplo lapidar: “O Japão vive há duas décadas com uma dívida pública que chega aos 200% e ninguém viu o Japão a desaparecer, a colapsar, a tornar-se num país pobre. Não é o fim do mundo um país viver três ou quatro anos com uma dívida pública desta natureza. É o fim do mundo se não virmos nenhuma perspetiva destes países virem a desenvolver-se e a terem ritmos de crescimento económico sustentáveis a prazo.
É por isso mesmo que Ricardo Pais Mamede elogia a sensatez do novo governo grego, que revela coragem e determinação, quando diz: “nós não estamos a querer aumentar a dívida pública de forma irresponsável, nós estamos a querer combater as oligarquias internas, todos os vícios que tornaram a sociedade grega frágil, mas também estamos a querer recuperar a nossa economia e a nossa sociedade e estamos dispostos a encontrar soluções racionais que permitam que, ao mesmo tempo que se reforma a economia e a sociedade gregas, tirá-las do sufoco em que têm vivido.”
Não admira que Varoufakis e Tsipras estejam a esticar a corda até ao limite: “Podemos considerar que a saída do Euro seria um desastre total, mas se um futuro governo Português, que estivesse empenhado na reestruturação da dívida, fosse ter com os seus credores e dissesse "nós queremos reestruturar a dívida, nunca correremos o risco de sair do Euro", o que está a dizer a esses credores é "aceitamos as condições que vocês quiserem e isso significa não reestruturar a dívida". A disponibilidade para sair do Euro neste momento é o trunfo mais forte dos mais fracos. E é isso que a Grécia tem vindo a fazer. Vamos ver se funciona ou não. “
Pelo que se tem visto nestes últimos dias a possibilidade de saída da Grécia do euro é vista por schäuble como uma fanfarronada, própria de “irresponsáveis”, mas tão só ela se torne previsível serão os alemães e os seus putativos aliados a tremerem de nervosismo.
É que se acomodaram de tal forma aos seus preconceitos ideológicos, que vê-los perante a prova de fogo de uma realidade imprevisível só os acobardará. É por isso que Ricardo pais Mamede considera que até nem é grande o passo a dar pelas instituição europeias para garantirem alguma margem de manobra às economias do Sul, como aliás já o fizeram por diversas vezes. Mas “poderiam dar muito mais. Não precisamos de viver com desemprego de 13,5% para pôr a nossa economia em ordem, podemos fazê-lo com um desemprego muito inferior. Temos um desemprego de 13,5% porque a ortodoxia europeia não quer abdicar da sua visão, que é desastrosa.”

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