domingo, 8 de fevereiro de 2015

Ya me cansé

Uma das reportagens apresentadas esta semana no excelente programa televisivo «Arte Reportage» teve como tema a situação no México depois da mediática morte dos quarenta e três estudantes do Estado de Guerrero, que foram aprisionados pela polícia e entregues a um cartel de droga para serem assassinados e tornados “desaparecidos”. O seu “crime” consistira em contestar um casal, que pretendia eternizar-se na presidência da câmara de Iguala como forma de garantir a impunidade dos negócios ilícitos ali realizados.
“Ya me cansé". Ou seja «Já estou farto», foi a expressão utilizada nas enormes manifestações organizadas por todo o México para acabar com um estado de coisas, que se agravou nos últimos oito anos.
Olhando para essa realidade podemos pensar que o México fica muito longe pelo que nada do que ali acontece nos diz respeito.
Não poderíamos cometer erro mais insensato, porque o que está em causa é a rapidez com que um Estado enfraquece, quando as instituições não sabem ou não querem contrariar a lenta degradação dos princípios fundamentais.
Quando, por exemplo, calamos a indignação por vermos alguém preso injustamente há mais de dois meses e os autores de tal iniquidade já antecipam o desrespeito da decisão de um Tribunal  superior, porque apostam em utilizar subterfúgios para manter a ilegitimidade da sua decisão. Ou quando a defesa dos interesses nacionais - numa REN, numa EDP, nuns CTT, numa TAP, etc. - é esquecida em proveito de interesses mais do que duvidosos, tanto mais que os seus inspiradores (um Catroga, por exemplo) logo se veem designados para pularem para cargos e remunerações de uma obscenidade repulsiva.
É  essa comparação entre o distanciamento entre os eleitores e quem os deveria politicamente representar, quer no México onde se assassinam jovens, quer em Portugal onde se dá cabo do Estado Social, que se justifica encontrar pontos de convergência entre tão diferenciadas coordenadas geográficas. E eles encontram-se na tal expressão “Yame cansé”.
No México a polícia corrupta foi expulsa de algumas regiões onde as populações decidiram criar as suas próprias organizações de defesa e de julgamento dos que praticam crimes. E descobriram-se inúmeras sepulturas clandestinas com centenas, se não mesmo milhares de corpos de quem há muito desaparecera sem que as autoridades providenciassem em encontrar-lhes explicação.
Em Portugal estamos cansados da pobreza, das injustiças do ministério público, da redução dos direitos sociais. Só falta saber: que sobressalto faltará para que, a exemplo do ocorrido com os mortos de Iguala, também os portugueses imitem os mexicanos e voltem à rua na dimensão já testemunhada em 15 de setembro de 2012 para pôr ponto final na triste realidade, que (ainda) é a nossa...

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