sexta-feira, 5 de junho de 2015

Quando falando de futebol, estamos de facto a falar de política!

Há quase seis anos que vou divagando por aqui o meu pensamento político e não me lembro de alguma vez falar de futebol. Não sendo indiferente ao que se vai passando nesse universo, nem prescindindo do afeto clubista herdado de meu pai, dou-lhe, porém, escassa importância: há muitos anos que não visito os estádios e nem sequer a premissa nacionalista de me entusiasmar com os feitos da seleção me levariam por exemplo a perder um bom dia de praia.
Vem isto a propósito da novela da transferência de Jorge Jesus de um lado para o outro da Segunda Circular. Se o caso começou por me prender a atenção pela mera curiosidade, o que se lhe tem seguido espelha bem uma das constatações mais sólidas alimentadas nestes quatro anos de governação da direita: vivemos num tempo em que de cima veio um tal exemplo de falta de valores éticos, que  isso acaba por se espelhar necessariamente no resto da sociedade.
Significa isto que, como republicano há valores primordiais a fundamentarem o meu credo político: a aspiração a uma sociedade mais livre, igual e fraterna, de acordo com o sonho utópico dos que lideraram a Revolução Francesa. Mas, complementares a essa trindade revolucionária, surgem outros valores complementares, que consubstanciam essa mesma ética republicana. E a lealdade, o respeito e a responsabilidade são três desse valores imprescindíveis para que ela se cumpra.
Olhando para a comédia de enganos com que se iniciou a dança de treinadores destes últimos dias constatamos que Jesus foi desleal não só com Marco Silva, cujo emprego surripiou, como também não respeitou a massa associativa do Benfica, que o segurou na semana em que tudo podendo ganhar, tudo perdeu. Sobretudo para com Luís Filipe Vieira, que sempre viu a Academia do Seixal como um viveiro de talentos a aproveitar e suportou estoicamente o desprezo olímpico que Jesus lhe votou. E Bruno de Carvalho andou meses a fio a desrespeitar Marco Silva, que lhe aguentou as maiores afrontas, como ademais cuidou de, na hora de o despedir, nem sequer lho dizer cara-a-cara mandando um dos seus capangas assegurar-lhe o recado. A cobardia de tal gesto é bem o reflexo evidente do que o atual presidente do Sporting entende como constituindo o conceito de responsabilidade.
Perante esta caracterização do sucedido no mundo do futebol, como não compará-la com o que tem sido o comportamento de passos coelho e dos seus ministros durante estes quatro anos?
Deslealdade aconteceu quando milhares de ingénuos acreditaram nas juras de passos coelho em como não iria cortar pensões nem despedir funcionários públicos e depois viu-se o que aconteceu. A deslealdade equivale, pois, a um exercício de contante mentira, que se mantem como cultura deste governo, que se prepara para ir a eleições omitindo a forma como quer poupar 600 milhões de euros na Segurança Social.
Falta de respeito foi o que sucedeu, quando passos coelho preferiu empobrecer os portugueses, estrangulando a classe média, para que disso beneficiassem os banqueiros alemães e franceses. Foi quando olhou para a esperança dos jovens num futuro melhor e os mandou emigrar. Continua a acontecer todos os dias quando, mesmo contra a vontade da opinião pública, insiste em privatizações mais do que suspeitas, como está a acontecer na TAP ou nos transportes urbanos.
E falta de responsabilidade ocorreu quando crato, teixeira da cruz ou paulo núncio recusaram a responsabilidade política quanto aos serviços, que ainda tutelam e arranjaram bodes expiatórios em subordinados chamados a dar a cara pelos erros cometidos. Quão longe estamos de uma escala de valores em que um ministro sem culpa nenhuma se demitia por uma ponte ter caído ou outro era demitido por emitir piadas parvas sobre a saúde de diabéticos!
Estamos, de facto, a viver tempos em que a ética republicana anda a ter contínuos tratos de polé. Como acontece quase sempre que a direita assume a liderança nos destinos do país. Olhando para trás só no tempo dos governos de durão barroso e de santana lopes se conseguem encontrar exemplos tão sórdidos de uma total dissonância entre o que se discursa e o que se pratica. Por isso mesmo um dos imperativos do governo, que tomar posse na sequência das próximas legislativas, deverá ser o de fazer uma boa barrela e tornar mais higiénico um ambiente, que está realmente infecto...

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