sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Nervosos miudinhos

1. Continuam a ouvir-se muitas vozes a preverem que não existirá um governo assente na maioria parlamentar de esquerda. O antigo ministro campos e cunha é só mais uma a associar-se à histeria de que manuela ferreira leite e outros nomes sonantes da direita têm expressado. E, como alternativa, já há quem defenda a possibilidade de cavaco silva lançar um governo de iniciativa presidencial tão só o de passos coelho chumbe.
Se, por um lado, esses enervados comentadores parecem desconhecer as mudanças constitucionais, entretanto, verificadas desde que tal tipo de governos teve (breve) existência, é Pedro Silva Pereira quem, no «Económico» esclarece lapidarmente o assunto: não é o de passos coelho um governo de iniciativa presidencial?
Escreve o deputado europeu: “Ouvidos os partidos, todos sabemos que este Governo minoritário da direita toma posse em confronto com a maioria do Parlamento. É, portanto, um Governo de iniciativa presidencial. E é um Governo condenado ao fracasso.” 
Noutro texto, inserido no «Ação Socialista», o mesmo autor insurge-se, muito justamente contra os opinadores do mesmo quadrante político, que assistiram às intervenções de rajoy ou de angela merkel em defesa de passos coelho e não se indignaram com uma intromissão tão evidente na nossa soberania: “Muito curiosamente, desta vez não se fizeram ouvir as reações indignadas de certos arautos do reino, noutros momentos tão abnegados na defesa da nossa soberania e confessos adversários da alegada conversão de Portugal numa espécie de "protetorado". Ao que parece, o brio nacional desses espíritos oscila com as conveniências. Agora, a julgar pelo seu respeitoso silêncio, acham normal ouvir estrangeiros a darem palpite sobre a interpretação que deve ser dada aos resultados das eleições em Portugal e até sobre a posição que devem ou não devem ter as instituições políticas portuguesas no processo de formação do novo Governo.”
Em tempos de grande nervosismo nas hostes dos que concluem agora terem perdido as eleições, o mais calmo parece ser António Costa, que, segundo Estrela Serrano, “continua a trabalhar numa solução de governo resistindo às pressões e aos insultos.”
E conclui a autora do blogue «Vai e Vem»: “No fim de contas, Costa, o tão proclamado vencido,  é o único que não se deixou capturar pelo ódio e pelo desespero.  Não perdeu a cabeça. É um bom sinal para o futuro. Precisamos de calma e de bom senso. Não daqueles que perdem o norte à primeira contrariedade.”
2. Os indicadores que vão sendo conhecidos dos resultados das politicas implementadas nestes quatro anos continuam a ser elucidativos quanto ao seu fracasso: em setembro o emprego continuava a descer, seguindo uma tendência constatada em agosto. Se então se tinham perdido 16 mil empregos, no mês seguinte foram mais seis mil que se lhes somaram.
Não surpreende que o INE tenha revelado nova quebra na população portuguesa: de 2013 para 2014 o país perdeu mais de 52 mil habitantes, quase na maioria forçados a partir por não encontrarem aqui meios de sobrevivência.
3. Deixo para o fim o comentário judicioso de Fernanda Câncio a justificar a ação preventiva contra o pasquim matinal da Cofina a propósito das mentiras que, sobre ela, vem desenvolvendo a respeito da Operação Marquês: “Previsivelmente, serei acusada de "censura" e de "constrangimento ao exercício do direito de informar." É que, parece, há quem considere que é mais grave tentar impedir crimes do que cometê-los.”

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