segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O balde de água fria para quem os julgava burros

Os homens inteligentes mudam de opinião, os burros, não.
Provérbio popular

A viragem de 180º do Partido Comunista em relação à viabilização de um governo do PS deixou a maioria dos comentadores atordoada, revelando a sua escassa capacidade em irem olhando para a realidade com outros óculos que não os da sua formatada miopia. E, no entanto, olhando para o sucedido na campanha eleitoral e para os resultados da CDU, compreende-se bem a mudança estratégica, que a sua liderança tomou na semana transata.
Comecemos pelas ações de propaganda da segunda metade de setembro: como se viu nas televisões, quase não houve nenhum dia em que Jerónimo de Sousa não fosse confrontado pelos seus simpatizantes com perguntas reveladoras do sentimento de necessidade de união da esquerda para contrabalançar a das direitas.
Depois foi o balde de água fria da noite do dia 4: ao contrário do anunciado pelas sondagens a CDU não conseguiu potenciar o descontentamento popular com as políticas destes quatro anos e pouco crescimento teve, quer em votos, quer em deputados (só um). Ademais viu o Bloco ultrapassá-la apesar de não contar com qualquer relevância do ponto de vista sindical ou autárquico.
Para os comunistas coloca-se esta evidência: se não foi desta que conseguiram recuperar a importância eleitoral do pós-25 de abril, dificilmente encontrarão outra oportunidade tão favorável para que tal suceda.
Para evitarem o definhamento verificado em todos os seus partidos irmãos um pouco por toda a Europa não podem repetir os erros do grego, que ainda era aquele que, na União Europeia, ia escapando á condenação grupuscular.
Jerónimo de Sousa e os seus camaradas do Comité Central conseguiram então uma jogada genial: por um lado não lhes interessa a repetição de eleições a curto e médio prazo onde arrisquem um recuo comprometedor para a sua sobrevivência. Se um governo, mesmo minoritário, do PS durar quatro anos, terão  tempo para capitalizar a ideia de constituírem uma força política em crescimento e, quiçá, esperarem que suceda ao Bloco o mesmo que ao Syriza: a sua social-democratização.
Com uma eventual repetição do que sucedeu ao MES depois do 25 de abril, quando a maioria dos seus melhores quadros - de Jorge Sampaio a Ferro Rodrigues - ingressaram no Partido Socialista e o vieram a enriquecer com a sua qualidade política, o PCP voltaria a assegurar a preservação ao recuperar o lugar mais à esquerda de todo o espectro político.
Trata-se, pois, de uma jogada bastante arriscada, não só porque os tempos são outros, mas também porque, ao contrário do MES, o Bloco ganhou uma importância parlamentar que aquele nunca teve. Mas há também que contar com a reconfiguração da esquerda europeia não comunista, onde fenómenos como o da pasokização (quando há a tentação de virar à direita) ou o de Corbyn em Inglaterra podem redefinir o posicionamento futuro das forças políticas, que ainda estão a oscilar entre um e outro campo.
Ora, numa altura em que se verificam as condições de agudização política e social enunciadas por Marx, a cartada comunista poderá fazer todo o sentido... 

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