sábado, 14 de novembro de 2015

Os longos tentáculos do terrorismo

Os atentados de Paris andam a propiciar o que de pior se alberga no imaginário coletivo ocidental. O lado troglodita de uma parte da população, intrinsecamente xenófoba, já andam a incendiar as redes sociais com exigências criminosas.
Que se fechem as fronteiras, propõem uns, sem quererem saber do facto de estarem dentro delas os que se preparam para os novos atentados.
Propõem outros que  se expulsem os refugiados por, a seu coberto, virem muitos terroristas, quando a maioria dos que buscam socorro na Europa procuram escapar precisamente do mesmo cenário de terror conhecido em Paris.
Com toda a razão Bashar al-Assad lembra as grandes responsabilidades francesas em particular, e ocidentais em geral, por quanto está a acontecer no Médio Oriente.
Das tão celebradas primaveras árabes, entusiasticamente recebidas pelos meios de comunicação social de toda a Europa, só a Tunísia deu origem a algo parecido com o pretendido por quantos tinham lutado na rua por uma nova realidade. Mas, ainda assim, sujeita a atentados como os de há uns meses atrás.
Em contraponto, o que está a acontecer na Líbia, no Egito, no Iémen ou, sobretudo, na Síria, mais não é do que redundou da ilusão de george dabliú em conseguir «democratizar» os países da região. As invasões do Afeganistão e do Iraque, logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, foram o destapar de uma caixa de Pandora, que agora ninguém parece em condições de conseguir voltar a fechar.
Porque se trata de uma verdadeira guerra entre os valores ocidentais e uma forma específica de fascismo, ela só poderá ser vencida quando os países financiadores do terrorismo - a Arábia Saudita e o Qatar - deixarem a condição de aliados ocidentais para serem confrontados com a sua condição de ditaduras tão ou mais execráveis do que o eram as de Saddam Hussein, Kadhafi ou Assad. Não para serem democratizados à força, mas objeto de boicotes políticos e económicos, que ponham em causa a sobrevivência dos seus regimes totalitários.
E, tão ou mais importante do que essa alteração de geoestratégia, seria fundamental que as democracias encontrassem formas de ultrapassar os seus constrangimentos austeritários, apostando seriamente no desenvolvimento das respetivas sociedades através da requalificação das pessoas. O que empurra muitos jovens europeus para o jiadismo é a negação de qualquer esperança quanto a um futuro minimamente decente, tornando preferível as utopias prometidas para o Além por ilusões religiosas absurdas.
Como populações sujeitas a atentados deste género olhamos para um lado e vemos os interesses relacionados com as indústrias de guerra e do petróleo a beneficiarem com este statu quo. Olhamos para o outro e encontramos jovens sem emprego e sem educação para os quais a aventura jiadista é a possibilidade de viverem a sério as “aventuras” ensaiadas nas suas play stations. Os verdadeiros inimigos não são só os segundos: os primeiros, mesmo no aconchego das suas clandestinas operações, são tão ou mais perigosos do que os psicopatas a quem direta ou indiretamente financiam...

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